Por Mário Aragão
Em um mundo cada vez mais colaborativo, a postura isolacionista, que não deu certo com o Reino Unido (Brexit), pode fazer a América cair do cavalo.
Dando coices no comércio internacional, Trump pretende aumentar as tarifas com a China, o México e o Canadá para 25%, e com os BRICS, para 100%. O “potro de crina laranja” pode chegar em último lugar no páreo dos países desenvolvidos.
— Se você apoia quem ataca o Brasil, então você não é patriota.
Nem mesmo aqueles que cultivam o complexo de vira-lata conseguem acompanhar esse galope. Afinal, “America First”, lembra? Ora, seria desejável que sejamos aliados econômicos dos EUA, claro, mas, se o “cavalo do cão” sai em disparada, sem rédeas, e quer derrubar o Brasil… então, Brazil First, ok?
Outro exemplo histórico de postura imprudente foi o Reino Unido, que, depois do Brexit, apresenta índices bem piores quando comparados ao período que antecedeu a União Europeia.
Segundo a Cambridge Econometrics, o Brexit custou 140 bilhões de libras e provocou uma redução de 6% na economia do Reino Unido. O prefeito de Londres, Sadiq Khan, pediu aos líderes políticos e empresariais que “construam urgentemente um relacionamento mais próximo com a UE para conter o declínio”.
— Agora é óbvio que o Brexit não está funcionando — disse Khan ao público da Mansion House. — A versão de linha dura do Brexit com a qual acabamos está arrastando nossa economia para baixo e aumentando o custo de vida.
Os cálculos do relatório também mostram que agora há 1,8 milhão de empregos a menos no Reino Unido como resultado do Brexit — com quase 300.000 empregos a menos apenas na capital.
O estudo afirma que o custo total de deixar a UE vai aumentar para £311 bilhões (€361,8 bilhões) até 2035, já que se espera que a produção, o investimento, as exportações, as importações, o emprego e a produtividade do Reino Unido sejam menores do que se o Reino Unido tivesse permanecido na UE.
A postura de Trump, com sua visão de “America First”, segue uma linha semelhante. Governar de costas para o mundo e propor tarifas elevadas ameaça alianças econômicas cruciais, como o USMCA, e desafia regras da Organização Mundial do Comércio. Em um mundo globalizado, onde as cadeias de suprimento são interdependentes, o protecionismo excessivo pode sair caro. Empresas americanas que dependem de insumos estrangeiros enfrentariam custos mais altos, repassados aos consumidores na forma de preços elevados, alimentando a inflação.
— Nosso cavalo selado pode ser outro
O isolamento econômico dos EUA pode abrir espaço para outras potências, como a China, que já avança com a Nova Rota da Seda, conquistando aliados comerciais em regiões negligenciadas pelos americanos. Mais de 150 países já aderiram à iniciativa, recebendo investimentos significativos. Um exemplo recente é o Peru, que recebeu 3,6 bilhões de dólares para construir o Porto de Chancay, inaugurado no mês passado. Além disso, a China anunciou que pretende zerar impostos para países em desenvolvimento. É lógico que os chineses estão de olho grande em nossas riquezas, mas vamos negociar.
Que o povo americano saiba colocar rédeas em Trump, pois o mundo tem esporas.