Opinião

Lula dispara sobre Bolsonaro na estrada das urnas de 2022

Pedro do Coutto

Pesquisa da Datafolha publicada hoje como  manchete principal da edição da Folha de São Paulo revela que o ex-presidente Lula da Silva dispara e abre grande vantagem sobre Bolsonaro nas eleições de 2022 que definirá a sucessão presidencial.

Lula vence em praticamente todas as regiões do país e a sua maior força encontra-se nos eleitores e eleitoras de menor renda, embora atinja percentual ponderável nas faixas de rendimento mais alto. A reportagem de Fábio Zanini focaliza bem a diferença entre os dois candidatos principais e destaca que há um declínio de Bolsonaro entre os segmentos que o levaram à vitória em 2018.

ÁREAS DE INFLUÊNCIA – Bruno Bogossian, também na Folha, assinala que os números do Datafolha acentuam que Lula retomou antigas áreas de influência, enquanto Bolsonaro vê a sua base encolher.

Na minha opinião, os números do Datafolha traduzem uma insatisfação bastante forte em relação ao governo Bolsonaro, o que aliás não deve surpreender ninguém conforme disse em artigos anteriores, sobretudo em função do congelamento salarial e da subida dos preços tanto na alimentação quanto nas tarifas públicas, e ainda por cima dos remédios, setor ignorado pela última pesquisa do IBGE publicada ontem e que apontou um índice inflacionário minúsculo de 0,3% em abril. São contradições entre o candidato Jair Bolsonaro e o presidente da República.

São contradições que inevitavelmente refletem no plano político eleitoral. A esperança de melhoria social desapareceu na administração que assumiu o país em janeiro de 2019. Em dois anos não foi anunciado qualquer projeto construtivo, nenhuma iniciativa para conduzir a uma redistribuição de renda, somente restrições produzidas pelo ministro Paulo Guedes que acumula na Economia quatro ministérios, a coordenação do plano de privatizações, além de opinar  em casos que se referem ao Banco do Brasil, à Petrobras e à Caixa Econômica Federal.

REFLEXO –  Colocadas essas questões essenciais, o reflexo teria que se fazer sentir no plano político voltado para as eleições de 2022. O tempo passa rápido, como rápida está revelada a força eleitoral do ex-presidente da República. Como definiu Einstein, “tudo é relativo, só Deus é absoluto”. Assim, o Datafolha acentua que a relatividade entre as ações de Lula e as de Bolsonaro produziram uma vantagem bem acentuada do ex-presidente sobre o atual presidente do país.

O Datafolha selecionou um grupo de possíveis candidatos à Presidência da República para medir a predisposição quanto a seus nomes numa disputa. Reunido o grupo, Lula desponta com 41%, Bolsonaro 23%, Sergio Moro 7%, Ciro Gomes 6%, Luciano Huck 4%, o que surpreende pois ele não é político, João Doria com apenas 3%, Mandetta 2 %, o empresário João Amoedo também com 2%. Os brancos e nulos estão reunidos em uma faixa de apenas de 9% .

ENTUSIASMO – O índice de 9% significa, a meu ver, que acompanho eleições desde 1955, a existência de um entusiasmo em torno da sucessão presidencial, e a vontade de votar branco ou anular está menor do que aquela que geralmente se concretiza depois da apuração dos votos. O Datafolha fez uma simulação para o segundo turno do desfecho.

Lula, se as eleições fossem hoje, teria 55% dos votos contra 32% de Bolsonaro. Cinquenta e quatro por cento não votariam em Bolsonaro de forma alguma, e 37% não votariam em Lula de jeito nenhum. Passando a hipótese de um segundo turno, Lula, como acentuei, alcançaria 55% contra 32% de Bolsonaro. Se Lula enfrentasse Sergio Moro, teria 53% contra 33%. Contra João Doria alcançaria 57% a 21%.

Se Doria enfrentasse Bolsonaro, alcançaria 40 pontos contra 39 de Bolsonaro. Se o duelo final fosse entre Ciro e Bolsonaro, Ciro teria 46% contra 36% de Bolsonaro. Portanto, Bolsonaro perderia no confronto para todos os candidatos possíveis de estarem presentes na sucessão de 2022. Este é o panorama político jogando luz sobre o futuro próximo que decidirá o destino do país.