Opinião

Roberto Dias confessa rede de corrupção e teia de estupidez no Ministério da Saúde, mas acaba preso

Pedro do Coutto

Em seu comparecimento ontem à CPI do Senado que investiga a corrupção no Ministério da Saúde, o ex-diretor do Departamento de Logística Roberto Ferreira Dias, confessou, tacitamente por etapas e por um caminho de contradições, a teia de corrupção no Ministério da Saúde  relativa à aquisição de vacinas para enfrentar a Covid-19.

A confissão foi feita após longas horas de respostas desconectadas por parte do ex-diretor. Entretanto, Roberto Ferreira Dias além de confirmar por caminhos indiretos o esquema ilegal que culminava com a elevação dos preços das vacinas, também deixou claro um conjunto de estupidez que envolveu as ações e as omissões de um grupo de dirigentes da pasta formado também por militares.

ARTICULAÇÕES – Os saltos nos preços entre as vacinas negociadas e as ofertas de fabricantes não incluídas no esquema sinistro deixou clara a articulação dos ladrões que estavam prontos para assaltar os cofres do Tesouro Nacional. A prisão de Roberto Ferreira Dias atingiu a escala mais estranha dos fatos que se passaram na área do Ministério da Saúde. Mas eu disse que, além do impulso no sentido da corrupção, houve também uma rede de absoluta estupidez, até mesmo de burrice, dos envolvidos no esquema, indiretamente identificados pelo ex-diretor de Logística.

Digo isso porque só a estupidez e a burrice são capazes de montar no palco de Brasília uma peça tão sem nexo de corrupção. A tentativa chega mesmo a ser infantil, revelando o descrédito que os responsáveis pela articulação do assalto cometeram. Como é possível que pessoas alfabetizadas e até acostumadas a situações singulares possam se reunir num restaurante de um shopping em Brasília para falar sobre um projeto de comissão absurda e ilegal com um pessoa que quase todos conheceram no dia anterior ?

ESTRANHO NO NINHO – Sentaram-se à mesa ao lado de Luiz Paulo Dominguetti, um estranho no ninho da intermediação. Sequer levaram em conta que o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais responde a 37 processos judiciais e administrativos e, pelo visto, estava fora de suas funções na corporação mineira.

O senador Omar Aziz, presidente da CPI, decretou a prisão de Roberto Ferreira Dias por falso testemunho. Em seu depoimento por longas horas, Ferreira Dias percorreu um caminho sinuoso de contradições e ruptura com a verdade e com a lógica dos fatos. Não esclareceu as razões de sua demissão do cargo que só pode ter sido estabelecida pelo ministro Marcelo Queiroga.

ERRO POLÍTICO – Ainda na noite de ontem, o Jornal da GloboNews informou que senadores da bancada do governo estavam tentando reverter a prisão de Roberto Ferreira Dias. Não poderia haver erro político maior.

Afinal de contas, Ferreira Dias foi exonerado pelo próprio governo e, portanto, não tem lógica que senadores governistas partam para defendê-lo. Essa defesa equivocada significa que os empenhados na tarefa deixaram cair a máscara da vacinação e da corrupção.

QUEDA NA RENDA  –  Leonardo Vieceli, Folha de São Paulo, com base em dados do IBGE, revela um aumento acentuado de brasileiros e brasileiras que sofreram diminuição de renda ao longo dos últimos 12 meses e passaram para uma categoria na qual a fome é companheira muito próxima da pobreza e da miséria.

De junho de 2020 a junho de 2021, 4,3 milhões de pessoas sofreram recuo em seus rendimentos, em parte consequência da pandemia e que se efetiva também pelo corte de empregos tanto domésticos quanto outros informais. Para termos uma ideia desse drama, basta dizer que no país, acentua Leonardo Vieceli, 24,5 milhões de pessoas sobrevivem com uma renda de um quarto do salário mínimo, ou seja, R$ 250. Um quarto da população brasileira, praticamente.

IMPOSTO DE RENDA – O ministro Paulo Guedes propõe reduzir o Imposto de Renda das empresas, mas não consegue se sensibilizar pela miséria que afunda uma grande parcela da população. Como querer que a economia brasileira avance, se 25 milhões de pessoas não conseguem se alimentar quando despertam pelas manhãs em barracos e porões, além daqueles que dormem nas ruas?

A pesquisa que levou o IBGE a essa conclusão foi feita em parceria com a PUC do Rio Grande do Sul. A renda média brasileira, de outro lado, no que se refere ao trabalho, caiu no último ano e desceu para R$ 233. Baixíssima e que reflete a extrema compressão de consumo.

No que refere à população acima desse triste grupo, a renda média no mesmo período desceu de R$ 1428 para R$ 1302.  Mas, o governo Bolsonaro não se preocupa com o desemprego ou com a queda na renda. Segue a cartilha do ministro Paulo Guedes e se afasta das urnas de 2022.