Opinião

Fux conduz Bolsonaro a um patamar de compromisso com a democracia

Pedro do Coutto
 
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, procurou Jair Bolsonaro para um encontro de conciliação entre o Executivo e a própria Corte Suprema, já que por diversas vezes o presidente da República atacou e ofendeu integrantes do STF.  O objetivo que norteou a iniciativa de Fux foi o de reduzir o clima de fervura que tem envolvido os constantes choques entre os Poderes Executivo e Legislativo.

Porém, a meta incluiu também a condução de Bolsonaro a um patamar em que ele terá que recuar de sua ameaça de golpe e se pronunciar inevitavelmente a favor da democracia e da Constituição do país. Sim, porque numa reunião em que se exalta o regime democrático, o presidente Bolsonaro não poderia fugir de se comprometer verbal e publicamente com o compromisso institucional.
 
VOTO ELETRÔNICO – Isso de um lado. De outro, e abrangendo o respeito à Constituição, encontra-se a questão do voto eletrônico nas eleições de 2022 que se aproximam. O tema foi de grande destaque na Folha de S.Paulo, no O Globo e no Estado de S.Paulo, nas edições de ontem. Na Folha, foi assinada por Marcelo Rocha e Ricardo Della Coletta. No O Globo, Dimetrius Dantas e Jussara Soares. No Estado de S.Paulo, Weslley Galzo e Marcelo de Moraes.
 
O sistema eletrônico de votação está absolutamente consolidado. Tendo entrado em vigor nas eleições de 1996, nunca houve qualquer reclamação focalizando o resultado, a não ser o tema tardiamente levantado pelo próprio Bolsonaro de que teria vencido no 1º turno em 2018 e só não conseguiu devido a uma fraude. Mas como? Ele participou do 2º turno sem registrar qualquer reclamação.

Embora vitorioso nas urnas por larga margem, Bolsonaro sustenta ainda essa tese absurda. Acha, como parte de seus seguidores também, que venceria no primeiro turno alcançando mais de 50% dos votos úteis. Ao longo do tempo, de 1996 aos dias de hoje, houve uma reclamação de Aécio Neves quando perdeu para Dilma Rousseff em 2014. Mas não avançou.
 
PROCONSULT –  Sobre o voto impresso, vale lembrar em 1982, no Rio, o escândalo do Proconsult que tentou transformar a derrota de Moreira Franco em vitória e a vitória de Brizola em derrota. Mas não conseguiram. A computação pela Proconsult baseava-se nas manifestações eleitorais nas áreas de classe média e rica, deixando para segundo plano os subúrbios do Rio e a Baixada Fluminense. Com isso, Moreira Franco surgia na frente.

Mas o Jornal do Brasil, no qual eu trabalhava, tinha instalado um sistema de acompanhamento das apurações com uma vantagem; eu havia acertado com Paulo Henrique Amorim, então redator chefe, e com Ronald de Carvalho, editor, a divisão por áreas eleitorais. Isso porque para se poder analisar eleições e computação tem que se definir a projeção algébrica dos votos.

VOTOS DO SUBÚRBIO – Por exemplo, na Cidade do Rio de Janeiro, os votos do subúrbio e da Zona Oeste eram mais numerosos que os votos do Leblon, Ipanema, São Conrado, Tijuca e Grajaú. Em Copacabana, como os eleitores já estariam se perguntando, a vantagem da classe média era pequena sobre as de menor renda. Isso porque Copacabana estava repleta de apartamentos conjugados e de apartamentos com número médio de moradores acima da média das casas de renda mais alta.

Existe um bairro no Rio, que focalizo no meu livro “O voto e o povo”, que era o termômetro da cidade. Por que isso? Simplesmente porque o Méier em um dos seus lados é um bairro de predominância de classe média, mas o outro tem o perfil característico de subúrbio. Esta explicação é fundamental.