Opinião

No ultimato aos ministros do STF, Bolsonaro termina dirigindo um ultimato a si mesmo

Pedro do Coutto

Ao inaugurar na tarde de sexta-feira o ramal ferroviário Ilhéus – Caetité, na Bahia, reportagem de João Pedro Pitombo e Kaique Santos, Folha de S.Paulo de sábado, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que nas manifestações de 7 de setembro enviará um ultimato aos ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, O presidente disse que “não podemos admitir que uma ou duas pessoas, usando a força do poder, queiram dar um novo rumo ao nosso país. Devem curvar-se à Constituição, respeitar a nossa liberdade e chegarem a conclusão que se encontram no caminho errado, mas há sempre tempo para se redimir”.

Como se constata, as declarações de Bolsonaro são absurdas e desconexas, sobretudo porque quem ameaça a estrutura constitucional do país é exatamente ele, Bolsonaro, na medida em que, como já tornou público diversas vezes, admitiu não realizar as eleições de outubro de 2022 porque o sistema de computação eletrônica não foi substituído pelo voto impresso.

AMEAÇAS – Surgiram assim novas ameaças ao Poder Judiciário, inclusive o presidente da República disse que os ministros “ousam nos desafiar, desafiando a Constituição e desrespeitando o povo brasileiro. Portanto quem dá esse ultimato não sou eu, é o povo brasileiro”. Analisando-se as frases do pronunciamento, expostas de forma excelente por João Pedro Pitombo e Kaíque Santos, chega-se à conclusão de que o presidente da República não se encontra com o seu pensamento organizado e tampouco baseado na lógica e principalmente nos fatos que dão margem ao raciocínio a partir do enfoque insubstituível do bom senso.

Os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso não estão propondo nenhum atentado contra a democracia. O primeiro está combatendo as fake news, cujos efeitos são extremamente desastrosos. O segundo, defendendo o sistema de computação eletrônica dos votos, sistema contra o qual, desde 1996,com exceção de Jair Bolsonaro, não houve qualquer denúncia ou contestação. Isso de um lado.

De outro, Bolsonaro, como deixou claro na cidade de Ilhéus, está disposto a utilizar o 7 de setembro para reiterar manifestações golpistas e autoritárias que só encontram respaldo na extrema direita que insiste em existir no Brasil, apesar do desfecho de 1945 com a derrubada do nazifascimo contra o qual a FEB lutou arduamente nos campos da Itália. Não me refiro à extrema esquerda porque esta desapareceu no Brasil completamente e suas ideias não mais se reproduziram e foram substituídas por um posicionamento reformista de inspiração cristã na medida em que prega apenas a justiça social e uma melhor distribuição de renda entre o capital e o trabalho.

ENTRECHOQUE – No final de semana, o ministro Onyx Lorenzoni dirigindo-se ao PT disse que a luta política “somos nós contra eles”. Referiu-se assim ao entrechoque inevitável de conservadores e reformistas. Mas esqueceu que no meio dos dois campos existem a democracia, a liberdade e o direito de voto.

Ameaças ao STF como essas que Bolsonaro faz são responsáveis pelo refortalecimento e ressurgimento da candidatura do ex-presidente Lula da Silva no quadro político brasileiro. É clara a consequência, afinal os que defendem as eleições, a Constituição e a imunidade do Supremo, nas urnas de outubro do próximo ano devem ficar com quem ? Com Bolsonaro que ameaça  a Corte ou com Lula da Silva que lidera amplamente as pesquisas eleitorais do Datafolha e do XP Investimentos ? A resposta é absolutamente clara.

RECUO DO BB E DA CEF – O presidente do Banco do Brasil, Fausto de Andrade Ribeiro, e o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, revela Murilo Rodrigues Alves, O Estado de S. Paulo deste sábado, recuaram de suas posições e decidiram não mais se desligarem da Febraban.

Tacitamente concordaram assim com o conteúdo da manifestação da entidade em favor da democracia e das eleições, posicionamento absolutamente legal, mas que contrariou fortemente o presidente Jair Bolsonaro que assim demonstra desejar exatamente o contrário. Mas essa é outra questão.

VULNERABILIDADE – No artigo de sábado, eu falei das dificuldades do BB e da CEF se desvincularem da Federação Brasileira de Bancos. Em 24 horas, a dificuldade se confirmou. Isso porque, na minha impressão, um rompimento deixaria vulneráveis atividades bancárias e empresariais, cujas revelações podem (não só poderiam) causar constrangimentos e reflexos negativos.

Poderiam proporcionar também o surgimento de informações sobre créditos lançados no exterior e sobre transações que muitas vezes extrapolam limites de rendas de assalariados e até de empresários. Assim, não será um bom negócio romper com o sistema financeiro que tem nos bancos, principalmente o Itaú, Bradesco e Santander, os seus elos mais fortes. Saldos bancários evoluem muito mais nas sombras do que a luz do sol.