Opinião

Política não é competição esportiva e o resultado atinge sempre a população do país

Pedro do Coutto

No primeiro pronunciamento depois do 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, no sábado, numa visita à Feira Agropecuária de Esteio, no Rio Grande do Sul, – excelente reportagem de Adriana Mendes, O Globo de domingo – que no episódio do Dia da Independência quando ameaçou descumprir as decisões do ministro Alexandre de Moraes, não houve nenhum poder vitorioso, reproduzindo assim a visão esportiva que faz do jogo político num embate em que sempre se julga vitorioso. Desta vez, entretanto, admitiu um empate.

A visão do presidente da República está completamente distorcida, da mesma forma que distorcida se encontram as correntes que se chocam umas ao lado do Planalto, outras voltadas maciçamente contra o chefe do Executivo. De qualquer forma, as paixões que ocorrem na vida humana, sejam de qual tipo forem, vão sempre produzir equívocos e conduzir às análises desastrosas da realidade.

TERCEIRO REFLEXO – Foi assim em 1955, quando Carlos Lacerda liderou um movimento subversivo contra a posse de JK, vitorioso nas urnas democráticas. A opinião pública precisa entender que o embate sintetizado nas legendas partidárias não envolve uma dualidade própria das decisões no futebol. Há sempre um terceiro reflexo, que no fundo, se encontra na verdadeira disputa, colocando em confronto as visões progressistas e conservadoras. Isso para reduzir ao máximo as opções do eleitorado porque temos que considerar ainda as posições de extrema direita, intolerante sob qualquer resultado das urnas que não favoreçam a paixão que alimenta em si.

Conforme digo sempre, o amor é um sentimento fundamental, mas Deus nos livre das paixões que se aproximam de situações febris e exaltadas ao máximo. As paixões são um perigo,  seja na política, seja no amor pela mulher, seja na obsessão de tentar impor uma realidade interior sobre a realidade concreta dos fatos.

Falei há pouco sobre extremismo e vejo tal posição relembrada em artigo de Patrícia Campos Mello, Folha de S. Paulo de ontem. O golpe preventivo foi o argumento falso usado pelo Lacerdismo em 1955 contra a posse de Juscelino Kubitschek. O então líder da UDN dizia: “Temos que dar o contragolpe porque o golpe foi dado nas eleições fraudadas”. O absurdo pelo que vejo através mais de seis décadas de jornalismo político se repete. É a intolerância para com a vontade popular.