Eleições

Com candidatura de Simone Tebet, união da terceira fica cada vez mais complexa

(Correio Braziliense) – O desenho do que seria a chamada terceira via para as eleições de 2022 fica cada vez mais complexo. Após as prévias do PSDB indicarem o governador João Doria como o candidato do partido à Presidência, outro nome bem-visto entre políticos anunciou a entrada na corrida pelo Planalto: a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que teve atuação destacada na CPI da Covid.

Com isso, já há pelo menos sete postulantes que se colocam como alternativa à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

BEM-CONCEITUADA – Única mulher na disputa até agora, Tebet é muito bem-conceituada, especialmente no Congresso. Apesar do entrevero que teve com a parlamentar, na semana passada, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também pré-candidato, só tem elogios à colega, e há sinais de que ele estaria tentando se aproximar dela para compor sua chapa como vice. Por sua vez, Doria tenta dialogar com outros candidatos para pavimentar o caminho como o candidato da terceira via.

Como obstáculo para os postulantes há o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro (Podemos). O ex-juiz da Lava-Jato é o candidato da terceira via mais bem posicionado nas pesquisas de intenção de voto. As mais recentes já o consolidam em terceiro lugar, com 10% a 13% de preferência, atrás apenas de Lula e Bolsonaro. Abaixo dele estão Ciro Gomes (PDT), Doria e Pacheco.

Moro, no entanto, nem mesmo gosta da menção “terceira via”. Em entrevista na semana passada ao Correio, disse ser preciso “esquecer essa expressão” porque ela “parte do pressuposto de que temos dois candidatos inevitáveis que seriam favoritos”. Ele não acredita nisso.

PACTO  COM DORIA – A ascensão do ex-juiz está no radar dos outros pré-candidatos. Desde que venceu as prévias tucanas, Doria passou a sinalizar que está aberto a uma eventual aliança com o rival do Podemos. Nesta semana, ambos firmaram um “pacto de não agressão”, mas nenhum dos dois se mostra disposto a abrir mão de liderar uma chapa no ano que vem.

Doria também chegou a fazer elogios a Pacheco e a Tebet. Ao que tudo indica, depois de se livrar do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, seu principal adversário nas prévias do partido, agora, o gestor de São Paulo quer se enturmar.

Tanto a equipe de Doria quanto o MDB negam, no entanto, que haja qualquer tentativa de aproximação visando um acordo para que Tebet seja vice. Segundo interlocutores do governador paulista, qualquer conversa sobre o assunto só deverá se traduzir em ações por volta de abril. “Antes disso, é especulação”, disse a assessoria do gestor.

PESQUISA FAVORÁVEL – Do lado de Tebet, não há, segundo fontes no MDB, nenhuma razão para que a senadora deixe de lado uma candidatura como cabeça de chapa para integrar outra, ao lado de Pacheco ou de Doria.

Isso porque, ao menos em São Paulo, antes mesmo de anunciar sua candidatura, a senadora aparecia tecnicamente empatada com o governador, segundo pesquisa Ipespe, feita no estado e divulgada na semana anterior ao anúncio da pré-candidatura dela.

Com margem de erro de 3,2 pontos percentuais, Tebet tem 2%, contra 5% de Doria. A senadora também aparece acima do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que tem 1%. Já Pacheco e o candidato do Novo, Luiz Felipe d’Avila, nem pontuaram.

SE HOUVER UNIÃO… – Leonardo Leite, doutor em administração pública e governo pela FGV, acredita que a terceira via só será viável se houver união de concorrentes, o que, segundo ele, é difícil, já que PSDB e MDB são partidos grandes, com resistência a apoiar outra candidatura.

“Acho que a terceira via só sairia do papel se os candidatos renunciassem às suas candidaturas e passassem a apoiar um nome único, único nome forte que, em tese, teria mais chances. Hoje, de acordo com as pesquisas, a projeção é de que Moro seja esse nome”, avalia.

“Não vejo essa abertura para união de candidaturas, vejo que pode estar se desenhando uma fragmentação muito grande, uma dispersão entre todos esses nomes e, no fim, eles acabarão numa luta entre eles próprios, dividindo os votos e favorecendo a polarização Lula e Bolsonaro.”