Opinião

Como pregava Paul Singer, o Brasil precisa é de Felicidade Interna Bruta

“A economia solidária é a única alternativa ao capitalismo não porque é mais eficaz economicamente que a capitalista, mas sim porque ela é solidária e precisamos da solidariedade para ser felizes e vivermos em paz. As pessoas estão cansadas deste modo de vida onde têm que competir o tempo todo sem parar. Por isso, o essencial na ideia de economia solidária está na segunda parte da expressão: a solidariedade”. 

Essas magníficas afirmações são do economista Paul Singer,um dos mais importantes intelectuais de nossa Era. Nascido na Áustria e naturalizado brasileiro, tornou-se um dos maiores analistas da evolução positiva e negativa do capitalismo, e considerava que o regime “passa por uma crise moral”.

IDEIA DA CONCORRÊNCIA – Uma visão panorâmica das ideias de Paul Singer encontra-se em notável artigo de Marco Weissheimer, ao salientar que Singer reconhecia um evidente paradoxo em sua posição. O mundo, disse, é mais do que nunca capitalista, baseado no liberalismo cuja essência econômica é a ideia da concorrência.

“O capitalismo fomenta a ideia da concorrência em praticamente todos os níveis da vida humana, como se fosse a única motivação capaz de fazer as pessoas fazerem o que devem fazer. É exatamente isso que a economia solidária nega. A ideia de um comércio justo é incompatível com o capitalismo”, dizia Singer.

Para ele, o capitalismo passa por uma crise moral no mundo inteiro. O problema não é exatamente a sua eficácia econômica, mas o modo de vida que ele engendra. E a insatisfação com esse modo de vida é crescente, especialmente entre os jovens.

CONCEITO DA FELICIDADE – De acordo com Weissheimer, Paul Singer introduz um conceito que, apesar da resistência dos mais ortodoxos, começa a penetrar de modo mais acentuado o campo da economia: o nível de felicidade. A ideia parte de uma constatação básica: as pessoas querem viver bem e ser felizes. E o mundo atual impõe um ritmo de vida opressivo, que obriga a imensa maioria do planeta a competir o tempo todo.

“Não é que a economia solidária seja tão eficiente, mas sim que ela nos deixa mais felizes, sem precisar competir o tempo todo”, disse Singer, ao citar uma pesquisa realizada na Alemanha e na Áustria, onde 70% dos entrevistados se disseram insatisfeitos com o capitalismo.

O mais interessante nesta pesquisa, acrescentou o economista, é que, indagadas sobre o que queriam no lugar do capitalismo, muitas pessoas disseram: “Felicidade”, uma resposta que lembra o índice da Felicidade Interna Bruta (FIB), desenvolvido no Butão.

FELICIDADE BRUTA – O Butão é um reino budista asiático, extremamente montanhoso e situado no extremo leste do Himalaia, conhecido por seus belíssimos mosteiros, encravados nas rochas. O índice da Felicidade Interna Bruta nasceu em 1972, elaborado pelo rei butanês Jigme Singya Wangchuck.

Com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o reino do Butão começou a colocar esse conceito em prática, atraindo a atenção do resto do mundo com uma fórmula para medir o progresso de uma nação.

Segundo esse conceito, o cálculo da riqueza de um país deve considerar outros aspectos além do desenvolvimento econômico, como a conservação do meio ambiente e a qualidade da vida das pessoas. O índice está baseado na ideia de que o objetivo principal de uma sociedade não deveria ser somente o crescimento econômico, mas a integração de todas as dimensões da vida humana em busca de um bom viver, em harmonia com a natureza.

ECONOMIA SOLIDÁRIA – “O mais importante da economia solidária é a prática da solidariedade. Se vocês querem ser felizes, sejam solidários”, enfatizava Paul Singer, para quem esse conceito ultrapassa a dimensão meramente econômica.