Política

Bolsonaro faz um jogo de alto risco ao apostar no centrão, que se caracteriza pelo “pragmatismo”


(Correio Braziliense) – Com o início do ano eleitoral, o Centrão começa a deixar mais claro suas intenções para 2022. Nesse jogo de interesses, nem sempre os ponteiros andam alinhados com o Palácio do Planalto. É verdade que o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, já empunhou as armas e tem inflamado o debate eleitoral com ataques ao PT, em uma prévia do que o eleitorado irá assistir.

Em 2017, porém, Nogueira defendia a reeleição de Lula e chamava Bolsonaro de “fascista”, embora seja hoje um dos principais nomes do governo para o projeto de reeleição do chefe do Planalto.

NÃO SE PODE CONFIAR – É verdade, ainda, que o Centrão está cada vez mais à vontade nas pautas de interesse do governo — leia-se o Orçamento de 2022. Após o decreto que deu maior poder à Casa Civil em relação a matérias como o Fundo Eleitoral, as emendas do relator e os créditos suplementares, o bloco integrado pelo PP e outros partidos assumiu de vez o controle dos recursos — diminuindo ainda mais a influência de Paulo Guedes na questão fiscal.

Nada assegura, no entanto, que o Centrão mantenha a fidelidade aos desígnios do Planalto. A reeleição de Bolsonaro permitiria ao bloco ampliar a presença em um segundo termo da atual administração. Mas uma vitória de outro candidato, em particular o ex-presidente Lula, não causaria empecilho.

As reformas necessárias para o país envolvem, necessariamente, as negociações com o Congresso, e o Centrão pretende garantir, independentemente do governo de plantão, um lugar de destaque na mesa.

É ISSO MESMO?  – Na tentativa de explicar essa afinidade com o bloco partidário, o presidente Jair Bolsonaro fez questão de lembrar, na semana passada: “Vocês votaram em um cara do Centrão”.

Mas esqueceu de combinar essa estratégia com bolsonaristas ardorosos, como os ex-ministros Abraham Weintraub (Educação) e Ernesto Araújo (Relações Exteriories), que têm criticado a aproximação do Planalto com o bloco do Centrão e a filiação ao PL de Valdemar Costa Neto.

Esse pragmatismo político do presidente está surpreendendo os seguidores e deve se tornar um ponto a ser esclarecido no debate eleitoral. A ver.

ESPIONAGEM – Por fim, a presidente da Comissão de Relações Exteriores no Senado, Kátia Abreu (PP-TO), pretende convocar o ministro da Justiça, Anderson Torres, e o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Augusto Heleno, para explicar o interesse do governo em relação a determinados equipamentos de espionagem eletrônica.

Uma das ferramentas permite invadir computadores e celulares mesmo se estiverem desligados.

Nas redes sociais, a senadora do PP foi direto ao ponto: “Por qual motivo o Planalto cobiça essa tecnologia em ano eleitoral?”, indagou em suas postagens.