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Delegado denuncia “interferência” no caso Milton Ribeiro, e PF manda abrir apuração 

(Wellington Hanna)

A Polícia Federal divulgou nota nesta quinta-feira (23) na qual anunciou a abertura de um procedimento interno para apurar “boatos de possível interferência” na operação que levou à prisão o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro — ele foi solto na tarde desta quinta por ordem do desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Na nota, a PF não esclarece o que seria a “possível interferência”.

“Considerando boatos de possível interferência na execução da Operação Acesso Pago e objetivando garantir a autonomia e a independência funcional do Delegado de Polícia Federal, conforme garante a Lei nº 12.830/2013, informamos que foi determinada a instauração de procedimento apuratório para verificar a eventual ocorrência de interferência, buscando o total esclarecimento dos fatos”, diz o texto da nota.

DECISÃO SUPERIOR – Em mensagem interna a colegas da PF, o delegado Bruno Callandrini denunciou que houve “decisão superior” para que Ribeiro não fosse transferido para Brasília, conforme determinação judicial emitida na quarta-feira por um juiz federal. A TV Globo teve acesso à mensagem, depois de o jornal “Folha de S.Paulo” ter publicado a informação.

Em razão da “decisão superior”, escreveu o delegado, ele deixou de ter “autonomia investigativa e administrativa para conduzir o Inquérito Policial deste caso com independência e segurança institucional”.

“Falei isso ao Chefe do CINQ [Coordenação de Inquérito nos Tribunais Superiores, da Polícia Federal] ontem, após saber que, por decisão superior, não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília e manterei a postura de que a investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton a Brasília à revelia da decisão judicial”, escreveu o delegado na mensagem.

HONRARIAS AO PRESO – De acordo com o delegado, foram concedidas ao ex-ministro honrarias não existentes na lei. “O principal alvo, em São Paulo, foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do empenho operacional da equipe de Santos que realizou a captura de Milton Ribeiro, e estava orientada, por este subscritor, a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem a Brasília”, escreveu.

Na tarde desta quinta, Milton Ribeiro deixou a carceragem da Polícia Federal na capital paulista. Ele foi solto por volta das 15h, depois de o desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), cassar a prisão preventiva determinada pelo juiz federal Ricardo Borelli, da 15ª Vara da Justiça Federal de Brasília.

Na decisão, o juiz Borelli havia determinado a transferência de Milton Ribeiro para Brasília, onde seria ouvido em audiência de custódia no início da tarde. A Polícia Federal, no entanto, argumentou que, naquele momento, estava sem condições “logísticas” de transportar o ex-ministro de São Paulo para a capital federal.

PS: Pegou mal a concessão de “honrarias não previstas em lei” a um reles criminoso, que se valeu de um cargo federal para enriquecimento ilícito, exatamente como ocorreu com Lula quando estava na Presidência. E como a impunidade está mais do que garantida no Brasil, a Polícia prende e a Justiça logo solta.