Meio Político

A imprensa na ‘berlinda’

Desde o início, a relação da imprensa com os poderes tem sido conflituosa. Seja com o Executivo, Legislativo ou Judiciário, essa relação sempre esteve entre interesses e a lógica do mercado. No Brasil, quando se trata de apontar o papel da imprensa na sociedade, sempre se diz que ela tem a importância da preservação da liberdade de expressão.
No tempo em que a imprensa se resumia apenas ao jornal impresso, primeiras décadas do século XX, Rui Barbosa tratando dessa relação, disse que “a imprensa tem o dever da verdade”. Com a chegada dos novos e modernos veículos de comunicação, essa relação passou a ser ainda mais conflituosa, pela dificuldade que os poderes passaram a ter para monitorar as informações.
Perceber este vínculo entre a Imprensa e o sistema político vigente é vital para que se possa compreender o papel desempenhado pela imprensa numa sociedade como a brasileira sem resvalar para um moralismo unilateral ou cair em preconceitos estéreis.
Delimitando o assunto, e trazendo-o para a nossa realidade paraibana, percebemos que os poderes, direta ou disfarçadamente, sempre buscam uma relação que seja favorável aos seus interesses. Poucos confrontam o comportamento de veículos de comunicação ou dos próprios jornalistas, a relação é sempre de obter o controle das informações, na maioria das vezes, vinda de cima para baixo.
De uns dias para cá, temos um exemplo desse conflito, com relação às informações dos crimes praticados em Campina Grande, quando o Centro Integrado de Operações Policiais (CIOP), deixou de enviar para os jornalistas as ocorrências registradas nos plantões. Por exageros de alguns jornalistas ou por objetivo do governo esconder os fatos registrados, a população não tem sido informada nas manhãs, dos crimes praticados na cidade.
Na sexta-feira (17), quando esteve em Campina Grande, o governador Ricardo Coutinho participando de uma solenidade de entrega de equipamentos no Comando de Policiamento Regional 1 (CPR1), em seu discurso pós o dedo na ferida. Tratando dos números da violência na Paraíba, ele comparou os seus sete anos de governos com os seis anos e dois meses do governo Cássio Cunha Lima.
Segundo Ricardo Coutinho a Paraíba de 2003 a 2008 dobrou o número de CVLIs (Crimes Violentos Letais e Intencionais), passando de 17 para 34 homicídios para cada 100 mil habitantes – quando Cássio era governador. Dizendo que a Paraíba perdeu o “bonde da história” nesse período.
A diferença, segundo RC, é que o governo fazia “política de segurança na comunicação”. Em por isso os números reais não chegavam ao conhecimento da população. Colocando na vala comum, jornalistas e veículos de comunicação como coniventes de uma forma de esconder os fatos policiais.
O governador também disse que o seu governo mudou essa lógica. “Nós paramos de fazer segurança na comunicação. Não interessa fazer segurança na comunicação. Interessa fazer segurança na segurança”.
Ricardo Coutinho lembrou que atualmente temos as mais diferentes formas de comunicação, as mídias sociais, que divulgam os crimes, espalham o sentimento de insegurança, o que ele chamou de “hiperplasia”. E que é apenas o sentimento.
Como exemplo, ele citou a França, que segundo ele, Paris é a cidade mais segura do mundo, e depois dos últimos atentados, o sentimento de quem mora lá é de completa insegurança. Tudo porque os veículos de comunicação e as mídias sociais deram ampla cobertura aos fatos.
Se Rui Barbosa dizia que a imprensa tem o dever da verdade, como esconder os fatos verdadeiros no dia a dia da sociedade, se o nosso compromisso com ela é divulgar a verdade? Ou como disse o jornalista Edgar Lisboa “a imprensa é à vista da nação”. Como fazer vista grossa de tudo que está acontecendo?

A quem o vereador Márcio Melo está atendendo, com as críticas feitas ao presidente do PSDB Rui Carneiro?