Economia

Além da crescente desindustrialização, o Brasil está perdendo a corrida da tecnologia

(Roberto Figueiredo)

Uma das evidências do retrocesso vivido pelo Brasil nos últimos tempos é a desindustrialização, simultânea ao atraso tecnológico. Como o país pode avançar dessa maneira, se estamos atrasados em termos educacionais, escolas ainda no mundo analógico, sem tablets, sem Internet para uso dos alunos, principalmente os de família pobre.

Neste governo, já estamos no terceiro ministro da Educação, um pior do que outro, o atual diz ter uma missão mais espiritual do que governamental, é um absurdo completo.

UM MUNDO NOVO – Vivemos tempos digitais, robóticos e altamente virtuais, a ponto das empresas de ponta da Europa, da China, da Índia, da Rússia e dos EUA disputarem ferrenhamente os seus produtos, notadamente no tocante a novas tecnologias, como a 5 G.

No entanto, no Brasil as pessoas continuam as mesmas, guerreando por espaços vitais, o ódio imperando, o espírito animal e a falta de solidariedade e empatia, estamos igual ao tempo das cavernas. Trata-se de uma contradição nos termos enunciados, pois o mundo e as sociedades são contraditórios nas suas origens.

Esse preâmbulo me veio após a leitura de um artigo de Eurípedes Alcantara no Globo (edição de 16/01/21), página 3, e de um outro de Pedro Dória no Estado de São Paulo (edição de 15/01/21), página B 10.

GIGANTES DA TECNOLOGIA – Eurípedes Alcântara discorre sobre o poder das Big Techs (Amazon, Apple, Facebook, Google e Microsoft), que após a invasão das hordas trumpistas no interior do Congresso americano, cujo resultado foram cinco pessoas mortas e depredação geral de quadros e monumentos que contavam a história americana, simplesmente baniram o ainda presidente Trump do Youtube e do Twitter.

Essas empresas de tecnologia detém um poder incomensurável, a ponto de desafiar e calar um maior, o Poder Americano. Se o Estado, na figura do presidente Trump foi calado pelas gigantes, imaginem o cidadão sem nenhum poder. Por essa razão, os processos eleitorais, o voto que existe para referendar um candidato para representar o eleitor, isso não serve para nada. Essas empresas elegem quem elas querem ou melhor aqueles que podem representar seus interesses.

VERDADE VIRTUAL – A democracia está em perigo. A verdade será o que as gigantes tecnológicas determinarem, assim como foi muito bem lembrado por Alcântara, que abordou o período soviético, quando os cidadãos da Cortina de Ferro poderiam ler somente dois Jornais: O Pravda e a Izvestia. O primeiro significava a verdade e o segundo a notícia. Não havia nem verdade nem notícia em nenhum dos dois jornais do Partido Comunista Soviético.

Quanto à China, Pedro Dória comentou sobre o cerceamento da liberdade de crítica do maior empresário chinês, chamado de Jack Ma, falastrão, boquirroto, falando fluentemente inglês e mandarim, dono da maior multinacional chinesa, a gigante Alibaba, que opera no comércio eletrônico.

Sem saber, já podemos ter até comprado produtos nas lojas AliExpress desse homem bilionário. Suspeita-se que Ma já controle metade das transações chinesas no MercadoPago ou Pix (sistema digital de pagamento).

SEM CONTROLE – Os países tentam controlar essas gigantes tecnológicas, sem sucesso. Trump abriu processos contra o Google e o Facebook, os europeus implementaram um sofisticado processo regulatório para colocar ordem na casa. Aí, faço um parêntese, para comentar que as gigantes tecnológicos ou qualquer outro ramo empresarial não suportam a palavra “regulação”, que significa controle do Estado sobre os lucros e a expansão das empresas. No fundo, buscam o deixe fazer, deixe andar e o deixe passar tudo.

Entretanto, com a China foi diferente. Jack Ma, ao sair de uma conferência em Xangai, na qual discursou contra a regulação do sistema financeiro do Ocidente, emendou olhando para os dirigentes do Partido Comunista que estavam na plateia, acusando-os de serem muito conservadores e por isso inibiam a inovação na China.

SOB INVESTIGAÇÃO – Ma foi calado literalmente. Abriram um processo antitruste contra as poderosas empresas do bilionário chinês, para investigar a razão de crescerem demais e muito rapidamente. O sucessor de Mao Tsé Tung, o atual presidente r chinês Xi Jinping, lembrou que nenhuma empresa na China é maior do que ele, que representa o Estado.

Serve de lição para o Brasil atual, que quer entregar tudo para as empresas privadas, vendendo todas as empresas estatais e até serviços públicos como a Casa da Moeda, o Serpro e a Dataprev e acenar com o desmonte da Receita Federal, o que gerará no futuro tantos Jack Ma aqui no Brasil, que não precisaremos mais do Estado, que perderá enfim a sua utilidade, estando o Poder total nas mãos de grandes empresários monopolistas.

Os líderes têm uma grande responsabilidade pelos destinos da nação, que governam, mas no Brasil a ignorância campeia.

LEMBREM A URSS – Para terminar, lembro sobre a derrocada do Império Soviético no final da década de 80, com o fim da antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), quando Mikhail Gorbachev inventou a Glassnot e a Perestróica, movimentos de abertura e democracia, que dividiram a nação em vários países, em processos separatistas violentos e rápidos, dando origem a um presidente alcóolatra e incompetente chamado de Boris Yeltsin, que quase acabou com o império russo.

É preciso pensar e se debruçar no estudo dessas lições da história recente do mundo. Até para não cometermos os mesmos erros.