Política

Ameaçados de expulsão, deputados se dizem fiéis a convicções e vão manter ‘ideologias’

Ameaçados de expulsão por terem contrariado a orientação de seus partidos, dissidentes na votação da reforma da Previdência garantem que vão se manter fiéis às suas “convicções ideológicas” e à sua base eleitoral. Parte deles começou a carreira legislativa depois de integrar movimentos por renovação política, que surgiram depois das manifestações de 2013.

Ao todo, 34 parlamentares de 10 siglas diferentes se posicionaram contrários à orientação determinada dos líderes partidários durante a votação que muda as regras de aposentadoria. O número de ‘rebeldes’ foi maior para o lado pró-reforma: 19 parlamentares votaram a favor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) enfrentando as manifestações dos seus partidos. Do outro lado, 15 parlamentares de siglas que eram favoráveis à reforma votaram contra a proposta.

CONVICÇÃO – No PSB, 11 deputados atuaram contra a orientação do partido. Entre eles, o deputado Felipe Rigoni (PSB-ES). Eleito por 84 mil votos, Rigoni argumentou ter votado por “convicção”. 

—  Não acho que uma votação única possa ser motivo de expulsão. Mas, se o partido avaliar o conjunto das minhas opiniões e das minhas votações e perceber que eu não tenho a ver com o direcionamento programático do partido, tem de expulsar mesmo — diz.

Integrante do movimento Acredito, grupo de renovação da política nascido nos últimos anos, Rigoni diz ter escolhido o PSB para se filiar porque havia uma cláusula de independência. “O PSB era um dos cinco partidos que assinou uma carta de independência com o Movimento Acredito. E eu acreditei que, de fato, ia ser cumprido esse compromisso. Acharam que não ia acontecer de fato a independência, mas eu sou independente para caramba”. 

CLÁUSULA? – Presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira afirmou ter recebido ontem um documento assinado por seis movimentos sociais pedindo a expulsão dos deputados. Sobre a cláusula, Siqueira rebateu que ela não foi acatada pela legenda.

— Essa cláusula não existe. Ninguém se filia dizendo que não vai cumprir as regras do PSB. Se tiver um partido que aceite isso, que vá para lá.  Aqui, não existe regra específica para ninguém — disse.

A apresentador Luciano Huck, integrante do movimento Agora!, um dos principais grupos de renovação da política dos últimos anos, criticou a ameaça dos partidos tradicionais. “As velhas raposas da política, que nas últimas eleições escancaradamente lustraram suas imagens no verniz dos jovens candidatos da renovação encubados pelos movimentos cívicos, agora destemperam e agridem tentando levar vantagem. Não entenderam que junto com a renovação vem a coragem e a independência para remar a favor do país e não de interesses eleitoreiros” — afirmou.

BASE ELEITORAL – Um dos oito parlamentares do PDT a votar contrário à orientação da sigla, o deputado Subtenente Gonzaga (PDT-MG) disse ter sido convencido a mudar de opinião após ouvir sua base eleitoral. Ele afirmou que o voto contra o partido não foi uma “rebelião”.

— Medo eu tenho é de gerar um escândalo para o partido. Medo eu tenho do partido sentir vergonha de mim, no sentido de corrupção.

Além de Gonzaga, votaram a favor da reforma da Previdência Alex Santana (PDT-BA), Flávio Nogueira (PDT-PI), Gil Cutrim (PDT-MA), Jesus Sérgio (PDT-AC), Marlon Santos (PDT-RS), Silvia Cristina (PDT-RO) e Tabata Amaral (PDT-SP). Procurada, Tabata disse que somente se pronunciará quando “entender o que está acontecendo”.

VOTOU CONTRA – Já entre os deputados que votaram contra a reforma mesmo após o partido orientar a favor da proposta está o deputado federal mais votado do Ceará, capitão Wagner (Pros). Ele defende que é a favor de um ajuste, mas considerou alguns pontos do projeto “muito perversos”, citando a redução na aposentadoria por invalidez. Além do militar, os outros dissidentes do PROS foram Weliton Prado (MG) e Clarissa Garotinho (RJ), filha do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho.

Além de uma lista de expulsão, o PSB enfrenta também um impasse com o senador Jorge Kajuru (GO), que foi convidado a se retirar da legenda.

— O PSB ficou incomodado por Bolsonaro me dar uma entrevista e falar bem de mim. O ciúme foi esse. Não é por causa de votos — disse Kajuru, alegando ter recebido convites de 11 partidos.  Kajuru diz estar analisando os convites e que vai definir a nova legenda até 1º de agosto.

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