Em discurso para milhares de manifestantes na Praça da República, em São Paulo, após ser condenado, o ex-presidente Lula se comparou a Tiradentes e ao ex-presidente sul-africano Nelson Mandela para atribuir a confirmação de sua condenação por corrupção na Lava-Jato ao descontentamento de parcela da sociedade com conquistas sociais de seu governo. “O ser humano pode ser preso. Mandela ficou preso 27 anos. E nem por isso a luta que ele fazia diminuiu. Ele voltou e virou presidente da África do Sul”, lembrou o petista.
Lula citou Tiradentes como “um pobre desgraçado de um alferes não era nem sargento”e que “ousou pensar na independência deste país”. “Não só o governo da época o condenou, como enforcou, como esquartejou, pendurou sua carne nos postes de Ouro Preto em Minas Gerais, para que ninguém nunca mais pensasse em fazer a independência deste país”, lembrou o ex-presidente, destacando que 30 anos depois aconteceu a independência e, quase 100 anos depois, Tiradentes foi exaltado como herói a justificar a proclamação da República.
UNIÃO DAS ESQUERDAS – Dizendo que não esperava outro posicionamento dos desembargadores do TRF-4 e que sua sentença era resultado de “mentiras”, ele defendeu a união das esquerdas nas eleições de outubro e voltou a dizer que quer ser candidato a um terceiro mandato, apesar do risco de ser impedido pela Lei da Ficha Limpa. O ex-presidente disse respeitar a decisão dos magistrados, mas não os fatos citados para justificá-la.
“Eu me disporia a ficar com os três juízes um dia inteiro, eu quero que eles mostrem qual é o crime que o Lula cometeu. Quero que peçam desculpas pela quantidade de mentiras que eles estão contando contra mim já faz quatro anos”, disse o ex-presidente, reclamando ter sido condenado por um “desgraçado de um apartamento” que, segundo ele, não é seu.
Para Lula, se agora o condenaram, que pelos menos lhe entreguem o apartamento. “Me deem uma escritura. Até já pedi para o Guilherme Boulos (líder do MTST) mandar o pessoal dele ocupar aquele apartamento. Já que é meu, ocupe”, afirmou.
ACESSIBILIDADE – Citando o acesso de parcelas da sociedade a bens de consumo durante seu governo e à educação superior e à habitação graças a programas de financiamento estatal, Lula disse que estes foram os elementos julgados nesta quarta-feira, dia 24, pelos desembargadores de Porto Alegre.
“Eu não tenho a preocupação que eles pensam que eu vou ter. Porque eles não podem prender um sonho de liberdade, eles não podem prender as ideias, a esperança. O Lula é apenas um homem de carne e osso. Eles podem prender o Lula, mas as ideias já estão colocadas na cabeça da sociedade brasileira”, disse.
“PAÍS DE PAZ” – Nesta quarta-feira, dirigentes partidários conclamaram em cima do caminhão de som os militantes a resistirem à sentença contra Lula e apelar, se necessário, até à desobediência civil como forma de evitar a prisão do líder político. Dizendo estar com “uma coceirinha” para disputar o Planalto em 2018, Lula baixou o tom e lembrou que todos estão cansados de “preconceito, inveja e ódio”, e que este é um momento de “construir um país de paz”, onde as pessoas não vivem com “raiva uma da outra”.
“A hora não é de desistir, a hora não é de resistir, é de continuar a nossa trajetória para o futuro deste país”, enfatizou o ex-presidente. Ao fim do discurso, manifestantes seguiram em marcha em direção à Avenida Paulista, em São Paulo.
Em discurso, Lula chegou a ironizar seus críticos, dizendo que faziam manifestação vestindo camisa amarela nesta quarta-feira para, na segunda-feira, trocarem por uma “norte-americana”. “Eles vão para Miami (EUA) fazer as compras de coisas que eles poderiam comprar aqui para gerar emprego para o nosso povo”, finalizou.
O globo