O Globo
Um dia depois de ser surpreendido pela fala do presidente Jair Bolsonaro de que está “queimado” em seu estado, o presidente nacional da legenda, Luciano Bivar , avaliou que Bolsonaro está sendo “mal aconselhado” e que advogados querem comandar os recursos do fundo partidário para fazer “coisas não éticas”. Em entrevista ao O Globo, Bivar disse haver um grupo capitaneando o presidente.
“O que há é um grupo capitaneado por duas ou três pessoas, um juiz desempregado, uma advogada rapina, que querem dinheiro. É tão ruim eu discutir sobre isso. Isso é o que menos importa para mim e para o presidente. Essas pessoas, sorrateiramente, cujo objetivo é outro, estão nisso. Acho que o presidente não deve estar sendo bem aconselhado porque estão vendendo ele como se fosse propriedade deles para forçar uma participação de domínio no partido e fazerem coisas que não são éticas”.
A última declaração do presidente de que essa crise no PSL se trata apenas de uma briga de marido e mulher é uma tentativa de amenizar a crise?
O presidente é um homem altamente intuitivo e eu o admiro pela sua intuição. Acho que ele é um patriota como eu e acho que não pode levar a tensões que prejudiquem a qualidade do governo.
O senhor pretende alterar o comando do partido e entregá-lo ao presidente?
Não. O presidente nunca me falou sobre isso, pessoalmente. O que há é um grupo capitaneado por duas ou três pessoas, um juiz desempregado, uma advogada rapina, que querem dinheiro. É tão ruim eu discutir sobre isso. Isso é o que menos importa para mim e para o presidente. Essas pessoas, sorrateiramente, cujo objetivo é outro, estão nisso. Acho que o presidente não deve estar sendo bem aconselhado porque estão vendendo ele como se fosse propriedade deles para forçar uma participação de domínio no partido e fazerem coisas que não são éticas.
O que são essas “coisas não éticas”?
O fundo partidário é da bancada e eu tenho que preservar isso. Eu não posso me dobrar a contratos e ofertas de serviços que não representem realmente nenhum processo. Isso realmente cria um desconforto. Os interesseiros do partido gozam de um relacionamento com o presidente e acham que, com isso, eles vendem esse falso poder para vender serviços ao partido. Não vão ter.
Quais são esses contratos de serviços?
Contratos para assessoria de imprensa, publicidade, advogados, compliance. E o próprio presidente diz que o bom é que tenhamos pessoas competentes e honestas e é assim que a gente tem andado e tem feito. Basta dizer que o último relatório que fizemos não teve nenhum comentário. Pedimos sugestões de tudo que foi realizado.
A bancada pediu para profissionalizar os serviços alegando que a prestação de contas, por exemplo, foi entregue em um documento de Word…
Pois é. Mas na época eu não ouvi nenhum comentário sobre isso. A crítica está vindo agora não pelo presidente, mas através de rábulas.
O senhor acha que Bolsonaro se excedeu?
Já respondi isso.
O senhor conversou com o presidente após o episódio?
Não. Eu tive muitas coisas ontem, reunião e jantar com Moro e não deu para gente conversar.
Nem por telefone?
Não, telefone não é um veículo bom. É bom conversar tête-à-tête. As coisas de política requerem você mastigá-las, você repensá-las, não é bom falar no primeiro sentimento. Em política, é bom a gente pensar se isso realmente será bom para o país. Será bom para o partido?
Avalia que ele mudou de posição?
Tem uma coisa que é inabalável que são os conceitos e as divergências do partido. O partido é uma comunhão de ideias, é impessoal. E estamos muitos felizes com o assédio que estamos tendo. O Brasil inteiro nos procurando. Nosso computador não para de trabalhar. Se você for no nosso partido em Brasília, o tempo todo estamos trabalhando em novas filiações e cadastramentos. Temos uma adesão nacional no partido.
O senhor acha que foi só um ato sem pensar?
Eu não posso comentar sobre o subjetivo do presidente.
O senhor está avaliando retaliar os deputados tirando-os das comissões que integram na Câmara?
A gente tem um comitê inteligente para funcionar as pautas do governo, que é o líder (Delegado Waldir), o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (Felipe Francischini). Esse Felipe é um deputado extraordinário. Tem os assessores parlamentares. A gente não pode botar os deputados em comissões só para agradar. Eles precisam que as coisas andem. São comissões que exigem conhecimento técnico. Se os caras estão lá apenas por protagonismo, não nos interessa. Queremos que as pautas andem. A gente não quer que os deputados vão lá para pedir vistas a projeto de lei, pedir obstrução, a gente quer que o país ande. Essa é a linha do presidente.
Então, o senhor vai trocar os deputados menos alinhados por outros mais afinados?
Sim. Mais afinados e que sejam tecnicamente eficientes. Veja a eficiência de Felipe e o delegado Marcelo Freitas na CCJ. Aprovando matérias lá muito rápidas. Mas não analisei casos específicos. Mas, a depender do conselho técnico do nosso partido, se achar que as coisas não estão andando, vamos alterar os representantes. Quando eu não era da mesa da Câmara, só buscava comissão que tinha mais afinidade e conhecimento. Não adiantava buscar área climática e tecnologia, que não tinha conhecimento. Agora, aparece uma comissão de viagem ao homem da lua e o cara aparece. Não é assim que se faz.
Como o senador Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro estão lidando com essa crise no partido?
Tenho conversado com eles sempre que possível. Outro dia convidei o Eduardo para fazer uma palestra no BRICS. Ele ficou muito feliz. Eduardo vai ser o orador de partidos políticos do BRICS. Ele vai representar o PSL falando. Eles têm sido muito atenciosos comigo.
O senhor chegou a falar com eles após o episódio?
Não tive oportunidade. Até o Flávio me procurou, mas seria hoje, mas estou viajando e não posso me encontrar com Flávio. Mas, ontem, o Eduardo falou com Rueda (vice-presidente do PSL) nos chamando para São Paulo, mas minha agenda não dava, eu já tinha outro assunto em Recife junto da Cúpula das Américas. Pedi desculpas. Estou indo para o Nordeste e não vou estar sexta e sábado em São Paulo (em evento do PSL). Eu acho que esses encontros são salutares para consolidar a nossa programática. Eu disse ao ministro Sergio Moro que somos uma nau, que não tem turbulência e tempestade que nos tire da nossa rota norte. Tivemos a felicidade de atracar sobre nosso arcabouço uma pessoa feito o Jair Bolsonaro e que deu uma alavancagem sem tamanho. Até isso que o presidente Bolsonaro fez hoje eu fiz no passado quando o Lula foi candidato à reeleição. Mas era outro contexto. Não existia Lava-Jato, não existia nada. O mesmo discurso que fiz hoje foi o discurso de ontem que eu fiz.
O senhor considera entregar o partido a Eduardo Bolsonaro?
Isso é fake. O Eduardo por muito custo aceitou ser presidente do PSL de São Paulo, imagine do nacional.
O senhor cogita deixar o comando da legenda?
Eu tenho mandato até 29 de novembro e o partido tem sua estrutura, suas datas. Você não pode transformar o partido político em uma República de bananas, ao menor traumatismo, mudar a direção do partido, isso dá insegurança política e jurídica. Outro dia um governador me disse que eu tinha de ir no estado para mostrar que está tudo bem e eu disse que não preciso ir ao estado: ‘Você tem de acreditar no brilho dos meus olhos’, que as coisas não se alteram assim. Se alteram com conversa, com consenso e principalmente com sensatez. O partido político não pode se servir de ferramenta para agredir pessoas e entidades. Ele se serve para defender teses e programação e dentro do regime democrático alcançar o poder e isso é a razão. Não pode trazer a luz e a tela do partido para agredir coisas. Essas agressões, como são membros do PSL, dão uma luz muito grande.
O senhor acredita que Bolsonaro vai sair do PSL?
Bolsonaro, como todo majoritário, não tem nenhuma amarra. É uma decisão independente dele.