O presidente Jair Bolsonaro transmitiu uma live pelo Facebook na tarde deste sábado, dia 4. Da sala no Alvorada, o chefe do Executivo também participou por meio de uma ligação de vídeo do I Encontro Cearense de Apoiadores do Aliança pelo Brasil, que ocorreu no Ceará.
Em parte da live, Bolsonaro conversou com o presidente da Embratur, Gilson Machado, um dos voluntários na fundação do Aliança. Ele pediu a união dos apoiadores para a criação do novo partido e aproveitou para alfinetar o PT, mais especificamente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“INIMIGO” – “Temos um inimigo que está vivo. Não é inimigo meu. Inimigo do Brasil. Está vivo e não pode voltar por ocasião das eleições de 2022. Por isso temos que nos preparar para enfrentar esse momento. Algumas reuniões foram feitas no Brasil, agora está sendo feita uma no Ceará”, disse Bolsonaro.
Ele ainda pediu responsabilidade da população na escolha para as eleições de 2022. “Estou com 64 anos, daqui a pouco estou deixando essa vida. Grande parte de vocês, com idade média de 25 anos, tem muito tempo de vida pela frente e tem que pavimentar a estrada que você vai enfrentar ao longo dos próximos 50, 60 anos”, emendou.
“CABEÇUDO ” – O presidente também prometeu visitar a cidade de Crateús, terra natal do pai da primeira-dama Michele Bolsonaro e chegou a afirmar que no Ceará “todo mundo é cabeçudo”.
“Tenho compromisso com a minha filha porque ela tem sangue de cabra da peste de Crateús e ela agora fez 9 anos, entende bastante as coisas, indo ao Ceará pretendo levá-la e conhecer Crateús. Fui capturado pelos cabras da peste através da minha esposa, quando comecei a namorar com ela não queria saber se era cearense, gaúcha, paulista, não queria saber do time de futebol, religião, estava de olho nela”, afirmou.
SIMPATIZANTES – O mandatário do país ainda agradeceu pela recepção do estado, que segundo ele, foi um dos que o recebeu com maior volume de simpatizantes em 2016.
“Acho que foi primeiro estado que tivemos grande recepção em aeroporto. Tudo começou por aí, se não me engano, um dos grandes articuladores disso acho que foi Alex Ceará, um cara cabeçudo. Se bem que chamar cearense de cabeçudo você não consegue identificar ninguém, lá todo mundo é cabeçudo”, disse.
INVESTIGAÇÕES – Bolsonaro disse ainda não ter poder sobre o andamento das investigações envolvendo um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ). Se tivesse esse poder, ele disse que “teria anulado, cancelado” qualquer processo ou apuração.
O presidente voltou a dizer que as investigações são uma “armação” do governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), potencial adversário nas eleições de 2022 e acusou o governador do Rio de tentar envolver outro de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), nas investigações sobre a morte da vereadora do PSOL Marielle Franco.
“Um dia vai chegar ao final esse processo”, disse o presidente. “Muito obrigado, governador Witzel, pelo trabalho que está sendo feito. Justiça vai ser feita, mas não essa justiça tua.”
NAVIOS IRANIANOS – Bolsonaro também relembrou do impasse envolvendo os Estados Unidos e dois navios com bandeira do Irã que ficaram parados sem combustível no litoral do Paraná, em junho. O caso foi resolvido com uma decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli.
À época, a Petrobras se recusou a abastecer as embarcações, por temer punições dos Estados Unidos, uma vez que os navios estavam sob sanção do país americano. O caso representou um desafio para o governo brasileiro, gerando um impasse sobre a relação com os Estados Unidos e o Irã. Os dois países estão no centro da escalada de tensão após a morte do general iraniano Qassim Suleimani em ação dos EUA no país.
AMEAÇA – Quanto ao episódio dos navios, de um lado, pesava a busca de aproximação do Brasil com o país governado por Donald Trump. Do outro, a importância da relação comercial com o Irã. O país do Oriente Médio chegou a ameaçar cortar as importações do Brasil se a estatal não reabastecesse os dois cargueiros. À época, o governo americano aumentava a pressão diplomática sobre o Irã.
Neste sábado, Bolsonaro lembrou que a decisão de Toffoli, que obrigou a Petrobras a reabastecer os cargueiros, foi importante para resolver o impasse. “Havia interesse de outro país de não reabastecê-lo. Ministro presidente deferiu liminar e navios foram embora. Questão do embargo americano”, lembrou, destacando que era uma decisão difícil para o governo brasileiro e que a Justiça, ao fim, se “antecipou”. “Precisamos do Legislativo, do Judiciário”, disse.
O fato de a estatal ter sido obrigada a abastecer os navios foi estratégico para o Brasil sair bem da situação. Como mostrou o Estado, ao decidir, Toffoli considerou que eventuais sanções contra a estatal poderiam ser contestadas pelo fato de o abastecimento partir de uma decisão judicial, e não por uma iniciativa da empresa.
FUNDO ELEITORAL – O presidente também repetiu que pode sancionar a destinação de R$ 2 bilhões no Orçamento de 2020 para o fundo eleitoral, destinado ao financiamento das campanhas no ano que vem e confrontou seus espectadores ao dizer que o Congresso derrubou no ano passado 80% dos seus vetos. “E se eu vetar, vocês acham que eles não vão derrubar o veto?”, questionou.
Bolsonaro tem argumentado que não pode vetar o valor do fundo porque o ato seria crime de responsabilidade, passível de impeachment. Segundo ele, o cálculo está previsto na lei que criou o fundo, em 2017, norma que não poderia ser descumprida. “(Se vetar) Estou atentando contra a lei. Querem que eu corra o risco?”, disparou aos espectadores que acompanhavam a transmissão.
SEM RISCO – Autores do pedido de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o jurista Miguel Reale Júnior e a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) afirmam que Bolsonaro não corre risco de cometer crime de responsabilidade caso vete o fundo eleitoral de R$ 2 bilhões. “É uma desculpa esfarrapada (de Bolsonaro)”, disse Reale Jr. ao Estado.
O presidente reafirmou hoje seu argumento e acrescentou que não pode correr o risco de ficar “refém” do Congresso em um eventual julgamento por crime de responsabilidade. Segundo ele, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já decidiu que não levará adiante nenhum pedido de impeachment de Bolsonaro. A prerrogativa de abrir ou não o processo de afastamento é do presidente da Câmara.
SUPOSIÇÕES – “Mesmo assim, vamos supor que Maia infarte. Não quero que ele infarte não, mas vamos supor… vem um novo presidente e fala ‘você me atende nisso ou eu vou mandar para plenário seu pedido de impeachment”, disse Bolsonaro. “Vejam o que aconteceu com Temer”, emendou o presidente, em referência às duas denúncias contra o ex-presidente Michel Temer que mobilizaram a articulação do governo para garantir o apoio necessário em plenário.
“Vamos vetar e eu ficar refém de um futuro presidente da Câmara, ou de pressão de lideranças da Câmara? É isso que vocês querem que eu faça? Assinar atestado de ignorante e peitar o parlamento? E se eu vetar, vocês acham que eles não vão derrubar o veto?”, disparou Bolsonaro.
Correio Braziliense