Opinião

Bolsonaro imitou Lula, traiu seus eleitores e se aliou aos maiores corruptos deste pais

 Por Carlos Newton -TI

A situação do país está cada vez mais clara. Pode-se até conceder a Jair Bolsonaro o benefício da dúvida, alegando que talvez o novo presidente pretendesse agir de outra forma e apoiar o movimento contra a corrupção, à época liderado pelo juiz federal Sérgio Moro, cujo trabalho era reconhecido internacionalmente, tendo sido transformado numa das mais importantes personalidade do mundo.

É possível acreditar nisso, julgar que Bolsonaro realmente pretendia atender a seus eleitores e passar o país a limpo, após a trágica experiência do PT, um partido sem quadros, que incentivou a corrupção e entregou o comando da economia a um médico sanitarista sem a necessária capacitação.

A SURPRESA DA RACHADINHA – No entanto, antes mesmo de assumir, o novo presidente Bolsonaro foi surpreendido por um ponto fora da curva. Um poderoso órgão federal, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) havia flagrado grande número de deputados estaduais da Assembleia do Rio em lavagem de dinheiro, e um deles era seu filho Flávio. E pior, fora incentivado a essa forma de enriquecimento ilícito pelo próprio pai.

Foi assim que saiu de cena o presidente anticorrupção e surgiu em cena uma nova versão de Bolsonaro, que entusiasticamente aceitou o suposto “pacto de governabilidade” proposto em maio de 2019 pelo presidente do Supremo, Dias Tofolli, com apoio dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, ambos interessadíssimos em abafar o movimento da Lava Jato.

Em consequência, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, ficou sozinho e teve de assistir seu projeto de medidas contra o crime ser transformado num pacote a favor da impunidade da corrupção, que incluiu a Lei do Abuso de Autoridade, para amordaçar juiz, membros do ministério Público e delegados.

LIBEROU GERAL – O Supremo também cumpriu sua parte no “pacto” e aprovou a prisão somente após condenação na quarta instância, levando o Brasil a ser o único país da ONU a garantir a impunidade nesse nível absurdo. E assim foram colocados em liberdade muitos criminosos condenados por corrupção, como Lula da Silva, José Dirceu, Eduardo Cunha e muitos outros.

Na verdade, insuflado por Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, o Supremo desfechou uma verdadeira guerra contra a Lava Jato e também tirou da Justiça Criminal o Caixa Dois, que virou irregularidade meramente eleitoral, vejam a que ponto chegamos.

Hoje, a Lava Jato, os procuradores e o ex-juiz Moro são atacados diariamente na mídia e na internet por representantes dos três Poderes que nesse sentido continuam “pactuados”. Há algo de errado, evidentemente, mas é isso que está acontecendo, como se o país estivesse de cabeça para baixo.

TRADUÇÃO SIMULTÂNEA – O presidente Bolsonaro preferiu trair seus eleitores e proteger os filhos, que seguiram seu exemplo rachadista para enriquecerem ilicitamente.

Resultado: o país está sem comando. Rompido com o vice-presidente Hamilton Mourão sem o menor motivo, hoje Bolsonaro tornou-se uma figura caricata, que mostra não ter dignidade, responsabilidade, capacidade nem hombridade.

Há alguns muitos anos o economista Edmar Bacha se notabilizou ao chamar o Brasil de “Belíndia”, uma mistura de Bélgica e Índia. E a Bélgica realmente é um bom exemplo para nós. Acaba de sair de seu mais longo período sem governo.Desta vez, o país ficou 650 dias acéfalo, desde a queda do premier Charles Michel. Para o Brasil, também seria melhor ficar sem governo do que continuar aturando Jair Bolsonaro.