Opinião

Conforme Nelson Rodrigues previu, os idiotas já conseguiram dominar a política brasileira

Carlos Newton

“Os idiotas vão tomar conta do mundo, não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos. A maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a maioria da humanidade”, dizia o genial Nelson Rodrigues, acrescentando: “Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia”.

Conheci Nelson Rodrigues em 1966, ele tinha 54 anos e ia toda tarde à redação de O Globo, para escrever suas crônicas no Segundo Caderno e na editoria de Esportes, comandada por Ricardo Serran, um personagem também inesquecível.

SEMPRE DE TERNO – Nelson andava de terno escuro, em tons de cinza, sempre de camisa branca, suspensórios e gravatas discretas, sem colorido.

Fumante obsessivo, acendia um cigarro atrás do outro, era comum naquela época. O pior é que ele escrevia os artigos como se fosse uma locomotiva, com o cigarro pendurado nos lábios, as cinzas caindo sobre as pernas, ele não ligava para nada. Escrevia com uma vagareza exasperante, porque batia à máquina catando milho com apenas um dedo – o indicador direito. A mão esquerda ficava segurando a manivela que trocava de linha.

Era um mito, Nós o adorávamos. Ele sentava em qualquer mesa e conversava com quem estivesse ao lado. De vez em quando, levantava para tomar café e a gente logo o cercava, para conversar sobre futebol.

OS IDIOTAS REINAM – Sempre penso no Nelson Rodrigues quando escrevo sobre as idiotices da política brasileira. Ele realmente tinha razão. Os idiotas são maioria e parecem ter prazer em desmoralizar a democracia. Aqui no Brasil, por exemplo, eles reinam e são mesmo imbatíveis.

Converso muito com Pedro do Coutto sobre a genialidade de Nelson, de quem ele foi amigo íntimo. Assistiam juntos aos jogos no Maracanã, torcendo pelo Fluminense. Eu e Pedro ficamos imaginando o que diria o grande jornalista se visse o Brasil dividido politicamente entre dois idiotas – Jair Bolsonaro e Lula da Silva.

São dos mitos inteiramente desqualificados, sem honra, sem moral e sem ética, mas conseguem ser idolatrados pela maioria dos brasileiros.  Em qualquer país mais civilizado, os dois já teriam sido escorraçados da política e estariam cumprindo pena, sem a menor dúvida.

NÃO FALTAM MOTIVOS – Para tirar os direitos políticos de Lula e Bolsonaro, levando-os a passar uma temporada na cadeia, realmente não faltam motivos.

No caso de Bolsonaro, pelo simples fato de ter mobilizado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para ajudar os advogados de seu filho Flávio a anular as investigações sobre prevaricação, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Tudo comprovado pela advogada Luciana Pires, que conduz a defesa do senador.

No caso de Lula, por ter criado um cargo público de alto salário para satisfazer a amante, dando-lhe carro com motorista, assistentes, cartão corporativo, e tudo bancado com recursos públicos, ou seja, do povo. Além disso, levou-a consigo em 34 viagens oficiais ao exterior, como clandestina, sem que seu nome constasse da lista de passageiros do Aerolula.

Como os idiotas estão dominando os três Poderes, nada vai acontecer a Lula e Bolsonaro, que têm uma coisa em comum. Ambos se consideram “perseguidos políticos”. E o curioso é que Lula se acha um novo Nélson Mandela, enquanto Bolsonaro se compara a Donald Trump. Como se dizia antigamente, cada louco com a sua mania.