Carlos Newton
Sempre que publicamos aqui na Tribuna da Internet algum artigo ou entrevista de Delfim Netto, logo surgem aqueles comentários infantis sobre o caráter do veterano economista, as propinas que recebeu ou teria recebido na sua passagem pela Embaixada da França, quando foi denunciado em 1976 pelo adido militar, coronel Raymundo Saraiva Martins, que fez um relatório contra o embaixador e teve sua carreira interrompida, não chegou a general.
Esses críticos irascíveis de Delfim Neto deveriam ler essas matérias, ao invés de desprezá-las, porque tudo o que ele diz é sempre importante.
NA ERA DA CONSTITUINTE –Durante a Constituinte de 87/88, Delfim tinha sido eleito por São Paulo e se tornou um dos meus entrevistados favoritos, junto com o consultor da República Saulo Ramos, os senadores Mário Covas e Roberto Campos, e os deputados Bernardo Cabral (relator), José Serra, Francisco Dornelles e Miguel Arraes, sem falar no Dr. Ulysses Guimarães, que presidia simultaneamente a Câmara, a Constituinte e o PMDB. Bons tempos, eu era feliz e não sabia…
Saulo Ramos, Bernardo Cabral e Ulysses Guimarães eram grandes constitucionalistas. Com os demais eu conversava sobre os temas econômicos. Fiquei amigo mesmo de Saulo Ramos, realmente genial. Eu ia quase todo dia visitá-lo na Consultoria-Geral da República, e depois nos reencontrávamos no happy hour do restaurante Fiorentino.
SEMPRE BEM-HUMORADO – Eu também ia muito ao gabinete de Delfim Netto, que desde os tempos de ministro era assessorado pelo jornalista Gustavo Silveira. Ao contrário de Roberto Campos, Delfim estava sempre bem humorado. Nenhum dos dois ostentava riqueza. Na era do predomínio do Opala e do Corcel Del Rey, Delfim ainda andava num Galaxie antigo, muito rodado, que lhe lembrava os áureos tempos de ministro.
Cheguei a ir ao apartamento de Roberto Campos em Brasília, às vésperas da votação da reserva de mercado para a informática, que ele defendia, e eu tinha sido contratado para escrever o discurso a favor dos industriais brasileiros. Mas isso já é outro assunto.
ECONOMISTAS GENIAIS – Sempre considerei Delfim Netto e Roberto Campos como economistas geniais. Quando perguntei a Delfim sobre o neoliberalismo e o laisser-faire, ele deu uma gargalhada. Roberto Campos também achava inviável crescimento sem um Estado forte, que possa fazer intervenções keynesianas.
Três décadas depois, vejo o Brasil comandado por um economista laisser-faire, que tenta transformar o Brasil num Chile que não deu certo. Jamais me incomodei com o fato de Delfim e Campos serem de direita. O fato concreto é que eles foram responsáveis pelo milagre brasileiros com o PIB crescendo média de 11% entre 1968 e 1973. O Brasil era o país que mais crescia no mundo.
Infelizmente, Roberto Campos já pediu as contas, mas continuo lendo tudo o que Delfim Netto diz. Ele adverte que Guedes não deveria ser isento do limite de despesas públicas e eu também acho que isso não vai dar certo. “Derrubar o teto de gastos não é a salvação nacional”, afirma Delfim. Realmente, precisamos pensar sobre isso.
TI