Carlos Newton
Um dos maiores pensadores da História Moderna foi Lord Kenneth Clark, nascido em Londres em 1903, especialista em arte, professor em Oxford, diretor do Museu do Reino Unidos e que se notabilizou como um dos maiores historiadores do mundo, autor da obra clássica “Civilização, Uma Visão Pessoal”, lançada em 1969, quando ganhou o título de Barão. Um de seus pensamentos mais conhecidos diz tudo sobre ele: “Civilização? Jamais conheci alguma. Mas tenho certeza de que, se algum dia encontrá-la, saberei reconhecê-la”
Esta conclusão de Clark se adapta perfeitamente à atual situação do Brasil, porque aqui se diz que vivemos num regime democrático, mas isso “non ecziste”, como diria o célebre padre Óscar Quevedo.
PRESSUPOSTOS – Para que haja democracia é preciso que exista independência dos Poderes, como ensinou Charles-Louis de Montesquieu, que também era Barão, mas por nascimento. De família nobre, atacou duramente o regime monárquico absolutista. Era considerado filósofo, mas na verdade se consagrou como historiador e cientista político.
Este pressuposto fundamental de Montesquieu raramente foi obedecido no Brasil, de forma satisfatória. Pelo contrário, temos uma tradição de governos autoritários e ditatoriais, em que não houve a necessária separação entre poderes.
Agora, 33 anos depois da última ditadura, assiste-se ao crescimento da promiscuidade entre os três Poderes, que se tornaram dependentes entre si, a pretexto de “descriminalizar” a política, através da inviabilização da Lava Jato, tendo como contrapartida a blindagem da família presidencial e dos demais envolvidos em movimentações atípicas em qualquer dos três Poderes.
TUDO ÀS CLARAS – O mais curioso é que no Brasil esse tipo de conspiração se faz às claras. A proteção aos corruptos é feita sob argumento de garantir amplo direito de defesa. Foi o que justificou a libertação de José Dirceu, através de um habeas corpus que sua defesa nem pedira. E agora é a mesma justificativa para a pressão destinada a libertar Lula da Silva, o mentor do maior esquema de corrupção da História Universal.
Essas distorções não podem acontecer em regime democrático, mas o Brasil foge à regra. O economista Armínio Fraga declarou semana passada que “o maior problema do país é a desigualdade social”. A jornalista Miriam Leitão perguntou se ele era de esquerda. Fraga respondeu que estudara a questão e concluíra que nenhum país pode se desenvolver sem reduzir a desigualdade social.
Aqui no Brasil, um procurador que ganha média de R$ 80 mil mensais considera esse rendimento um “miseré”, sem perceber que isso significa 80 vezes o salário mensal da grande massa de trabalhadores brasileiros, diferença que não existe em nenhum país minimamente civilizado.