Recebi uma mensagem do pastor Raimundo S. Ramos, que mora na Flórida e lê diariamente a “Tribuna da Internet”. Suas palavras de incentivo muito me honraram e emocionaram, gostaria de conhecê-lo pessoalmente. Nesta mensagem, o pastor Ramos criticou a defesa que faço do ecumenismo: “Concluo dizendo que ninguém tem o coração na condição de aceitar vários senhores. O ecumenismo não é religião, mas paganismo. O ecumenismo não prega nenhuma doutrina específica, mas várias. Jesus disse: ‘Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro…’- (Mateus 6.24)”, afirmou o pastor.
No meu caso, querido amigo Raimundo S. Ramos, jamais me passou pela cabeça estar servindo a dois senhores quando defendo o ecumenismo. Aliás, acredito que a citação bíblica de Cristo, em uma visão mais ampla, mostra que ele não estava se referindo a outro Deus ou religião.
DISSE JESUS – “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom” – relatou o apóstolo Mateus.
A meu ver, porém, não se pode considerar Mamom como um Deus, pois a palavrar grega “mammonas” significa Riqueza e Dinheiro. E justamente é nesta importantíssima parte da Bíblia que Jesus prega o desprendimento dos bens materiais. E diz: “Olhai os lírios do campo”, defendendo a humildade e o desprezo à riqueza, ao mesmo tempo em que faz críticas aos “homens de pequena fé”.
Com todo respeito ao amado pastor Raimundo Ramos, peço licença para discordar que defender o ecumenismo seja uma mensagem pagã. Mas posso estar errado, é claro.
FÉ EM DEUS – Posso estar enganado, repito, mas no meu modo de ver todas as religiões que enaltecem Deus merecem nosso respeito, devido à diversidade das culturas existentes na humanidade. Enquanto o pensamento do mundo ocidental se volta para a extraordinária presença de Jesus Cristo, é sempre bom lembrar também os outros enviados de Deus, que estruturaram as bases da religiosidade em outras partes do mundo dito civilizado, embora até hoje ainda não se possa dizer que já exista realmente civilização. O genial historiador inglês Kenneth Clark (1903-1983) costumava ironizar, dizendo: “Civilização? Nunca vi nenhuma. Mas se algum dia encontrar alguma, sei que saberei reconhecê-la...”
Os enviados de Deus são os avatares, uma palavra derivada do sânscrito que significa “aquele que descende de Deus” ou, simplesmente, qualquer espírito que ocupe um corpo, representando assim uma manifestação divina na Terra.
OS AVATARES – A humanidade teve grandes avatares do pensamento filosófico, social e espiritual, que nos influenciam até hoje. Pela ordem de entrada em cena – Krishna na Índia (3 mil anos antes de Cristo); Lao Tse na China (1.300 a.C.); ao mesmo tempo, Moisés no Egito e Oriente Médio (1.291 a.C); depois, Buda na região do Nepal/Himalaia (600 anos a.C.) e Confúcio no Nordeste da China (550 anos a.C.); logo em seguida, Sócrates na Grécia (469 a.C.); o próprio Jesus Cristo na Palestina, que marcou a abertura da atual nova Era; e Maomé em Meca, na Arábia (570 depois de Cristo).
Há outros avatares, como Zoroastro (ou Zaratrusta), criador da doutrina dualista (Bem e Mal) dos persas, cerca de 700 anos antes de Cristo, uma religião também muito importante, adotada pelo Império Aquemênida, que dominou grande parte do mundo 500 anos antes de Cristo.
AS MESMAS LIÇÕES – O importante é que todos os avatares ainda hoje influenciam a humanidade. Em suas doutrinas, constata-se praticamente o mesmo ensinamento, a idêntica tentativa de melhorar a vida de todos e de criar relações mais justas e humanas, numa impressionante coincidência de propósitos e iniciativas.
Suas origens são bem distintas. Mas tinham em comum os mesmos objetivos sociais e espirituais. Detalhe interessante: nenhum dos grandes avatares deixou por escrito seus pensamentos religiosos e teses filosóficas. As palavras de todos eles foram difundidas ou transcritas por discípulos, apóstolos ou seguidores.
Sou cristão e reconheço a importância de todos os avatares. E respeito também aqueles que são ateus, mas vivem como pessoas honestas e bondosas, sendo também nossos irmãos na busca do bem comum.
Carlos Newton