O presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse nesta sexta-feira (dia 19) que não existe fome no Brasil. “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não”, disse em café da manhã com correspondentes internacionais. “Você não vê gente mesmo pobre pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países pelo mundo”, disse o presidente, sem citar nominalmente as nações que mencionou na declaração.
A fala foi uma resposta do presidente a uma representante do jornal espanhol El País, em Brasília, que disse que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, havia manifestado preocupação com a desigualdade no Brasil e quis saber que trabalho o governo tem realizado para reduzir a pobreza no país.
NÃO ATRAPALHAR – Bolsonaro disse ainda que o Brasil é um país privilegiado e que o que os poderes Executivo e Legislativo podem fazer “é facilitar a vida do empreendedor, de quem quer produzir, e não fazer esse discurso voltado para a massa da população, porque o voto tem o mesmo peso”, disse, criticando a política de bolsas de governos anteriores.
“É só as autoridades políticas não atrapalharem o nosso povo que essas franjas de miséria por si só acabam no Brasil, porque o nosso solo é muito rico para tudo o que se possa imaginar”, disse.
Disse ainda que é o conhecimento que tira o homem da miséria —o que, pare ele, não foi bem cuidada nas últimas décadas. “A educação aqui no Brasil, nos últimos 30 anos, nunca esteve tão ruim”, avaliou.
BANCO MUNDIAL – Segundo cálculo da Folha com base em documento divulgado em 4 de abril pelo Banco Mundial, a crise econômica dos últimos anos empurrou 7,4 milhões de brasileiros na pobreza entre 2014 e 2017.
Com isso, houve um salto de 20,5% —de 36,5 milhões para quase 44 milhões— no número de pessoas vivendo com menos de US$ 5,5, ou seja, R$ 21,20, por dia.
De acordo com a Fundação Abrinq, que fez cálculos a partir de dados do IBGE, 9 milhões de brasileiros entre zero e 14 anos do Brasil vivem em situação de extrema pobreza. E o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde (Sisvan) identificou, no ano retrasado, 207 mil crianças menores de cinco anos com desnutrição grave no Brasil.
ZERO DOIS PROTESTA – Nas redes sociais, um dos filhos do presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC), criticou o encontro do pai com os correspondentes.
“Por que o presidente insiste no tal café da manhã semanal com ‘jornalistas’? Absolutamente tudo que diz é tirado do contexto para prejudicá-lo. Sei exatamente o que acontece e por quem, mas não posso falar nada porque senão é ‘fogo amigo’. Então tá, né?! O sistema não parará!”, afirmou o filho Zero Dois.
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