Opinião

Falta anular o sítio de Atibaia para Lula ser candidato à sucessão em 2022

Pedro do Coutto 

O voto da ministra Cármen Lúcia na decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, embora contraditório em relação a seus votos em temas praticamente iguais ao longo dos últimos anos, analisando-se concretamente o episódio, verifica-se que pode ter garantido a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à sucessão de Jair Bolsonaro em 2022, se o Plenário do STF confirmar a decisão de Fachin sobre a falta de competência da 13ª Vara de Curitiba no caso de Atibaia, em que Lula ainda tem ficha suja.

Os deputados, senadores e os cientistas políticos, assim classificados por editores de jornais e emissoras de televisão, não perceberam todo o desenrolar do que aconteceu na última terça-feira. Chama a atenção, o que não foi percebido à primeira vista, o fato de Cármen Lúcia ter alterado o seu voto. Ela esperou o voto do ministro Nunes Marques, que deveria seguir uma orientação do Planalto, pois foi nomeado há poucas semanas pelo presidente Bolsonaro.

HABILITAÇÃO DE LULA – Nunes Marques votou pela imparcialidade de Moro no julgamento do apartamento do Guarujá. Cármen Lúcia então votou pela parcialidade para anular a sentença do juiz que depois foi ministro da Justiça Com isso, habilitou o candidato do PT. Se Nunes Marques tivesse votado pela parcialidade, o julgamento na Segunda Turma estaria decidido e então Cármen Lúcia repetiria a sua interpretação anterior e acompanharia o relator Edson Fachin.

Em outro habeas corpus, o ministro Edson Fachin, é oportuno lembrar, acolheu uma ação do advogado Cristiano Zanin, que defendia Lula e decidiu anular todas as condenações do ex-presidente por Sergio Moro. Fachin não entrou no mérito dos julgamentos. Achou apenas que o fórum de Curitiba não era o adequado para julgar Lula da Silva.
Remeteu então os autos para a primeira instãncia federal de Brasília. Com isso, tentou evitar que a corrente no STF liderada por Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski pudesse anular todas as condenações por Sergio Moro, o que derrubaria a própria Operação Lava Jato. Mas isso não aconteceu, porque a Segunda Turma julgou apenas a ação do tríplex.
CASO DO TRÍPLEX – Seria um lago azul para os advogados. Mas como eu disse, Fachin e Cármen Lácia impediram esse acontecimento. Inclusive no voto de terça-feira, Cármen Lúcia fez questão de assinalar que votava pela nulidade apenas no caso do tríplex do Guarujá, e sua manifestação não se estendia aos demais julgamentos de 1ª instância e também aqueles confirmados em 2ª e 3ª instâncias pelo TRF do Rio Grande do Sul e pelo Superior Tribunal de Justiça.

Bela Megale, em O Globo, diz que o resultado da votação no STF pegou o Planalto de surpresa. Uma surpresa que Vera Magalhães, em sua coluna no O Globo, admite até que Bolsonaro possa estar fora do segundo turno. Seria batido por Lula e talvez por um outro nome que aparecesse para disputar as eleições.  Não acho muito fácil isso, mas tenho certeza que a cada dia Bolsonaro perde força política e apoio eleitoral. 

GUERRA SEM SANGUE  – Relativamente aos cientistas políticos, acentuo que são pessoas de sólida formação universitária e intelectualmente bem preparados. Porém, seus raciocínios têm base muitas vezes no que supõe ser a política. Mas a política, entretanto, não é  como eles pensam. Interesses econômicos e financeiros envolvem o universo político e tais interesses encontram-se profundamente representados nas obras públicas, nos financiamentos bancários, nas aquisições de equipamentos, na Bolsa de Valores e no mercado de câmbio.
Tenho esta sensação adquirida em 62 anos de jornalismo. A política, como alguém já disse na história, é uma guerra sem sangue e também um confronto sangrento. Mas esta é outra questão.