Pedro do Coutto
O voto da ministra Cármen Lúcia na decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, embora contraditório em relação a seus votos em temas praticamente iguais ao longo dos últimos anos, analisando-se concretamente o episódio, verifica-se que pode ter garantido a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à sucessão de Jair Bolsonaro em 2022, se o Plenário do STF confirmar a decisão de Fachin sobre a falta de competência da 13ª Vara de Curitiba no caso de Atibaia, em que Lula ainda tem ficha suja.
Os deputados, senadores e os cientistas políticos, assim classificados por editores de jornais e emissoras de televisão, não perceberam todo o desenrolar do que aconteceu na última terça-feira. Chama a atenção, o que não foi percebido à primeira vista, o fato de Cármen Lúcia ter alterado o seu voto. Ela esperou o voto do ministro Nunes Marques, que deveria seguir uma orientação do Planalto, pois foi nomeado há poucas semanas pelo presidente Bolsonaro.
HABILITAÇÃO DE LULA – Nunes Marques votou pela imparcialidade de Moro no julgamento do apartamento do Guarujá. Cármen Lúcia então votou pela parcialidade para anular a sentença do juiz que depois foi ministro da Justiça Com isso, habilitou o candidato do PT. Se Nunes Marques tivesse votado pela parcialidade, o julgamento na Segunda Turma estaria decidido e então Cármen Lúcia repetiria a sua interpretação anterior e acompanharia o relator Edson Fachin.
Bela Megale, em O Globo, diz que o resultado da votação no STF pegou o Planalto de surpresa. Uma surpresa que Vera Magalhães, em sua coluna no O Globo, admite até que Bolsonaro possa estar fora do segundo turno. Seria batido por Lula e talvez por um outro nome que aparecesse para disputar as eleições. Não acho muito fácil isso, mas tenho certeza que a cada dia Bolsonaro perde força política e apoio eleitoral.