(Por Carlos Newton) – São famosos os fantasmas que habitam o Palácio da Alvorada. Na célebre conversa com o dono do Grupo JBS, Joesley Batista, no recôndito porão do Palácio Jaburu, o presidente Michel Temer descreveu suas noites de insônia no Palácio da Alvorada, onde ficou por apenas uma semana. Após relatar que não conseguiu dormir, disse o então presidente: “Deve ter fantasma lá...”. E o empresário indagou: “Como é que a Dilma aguentava ficar sozinha lá?”
No início de sua hospedagem no Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro não teve problemas com fantasmas. No entanto, depois que Lula da Silva foi solto, passou a ser pesadelos ocasionais, e agora a coisa se complicou, com o ressurgimento do fantasma do impeachment.
GUEDES E O IMPEACHMENT – Quem primeiro pressentiu a presença do novo fantasma foi o ministro da Economia, Paulo Guedes. Na terça-feira da semana passada, dia 11, Bolsonaro ficou estupefato ao saber que seu principal ministro tinha dado uma entrevista admitindo a possibilidade de haver um processo de impeachment, caso o presidente continuasse a seguir o conselho de ministros “fura-teto”, que defendem a ampliação das despesas públicas para garantir a reeleição em 2022.
Segundo o jornalista Vicente Nunes, editor-executivo do Correio Braziliense, Bolsonaro considerou devastador esse ponto da declaração de Guedes, sobretudo pelo fato de o ministro, na hora da entrevista, estar ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que tem o poder de decisão sobre abertura de processos de impeachment.
CAMPOS REFORÇA – No desespero para arranjar recursos e acalmar Bolsonaro, que só pensa naquilo (a reeleição), o ministro Guedes resolveu pedir ao Branco Central o repasse do lucro obtido com o reajuste das reservas cambiais, devido ao aumento do valor do dólar, cujo total chegaria a R$ 400 milhões.
Desde maio de 2019 o BC não é obrigado a repassar ao Tesouro o lucro com as operações cambiais. Mas a transferência tem respaldo legal e depende de autorização do Conselho Monetário Nacional, formado por Guedes, Campos Neto e pelo secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues.
No entanto, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, negou-se a autorizar o repasse, devido ao reaparecimento do fantasma do impeachment, porque esse dinheiro não pode ser usado para despesas primárias, como salários e benefícios.
P.S. – Bem, ficamos nesse pé, que não ata nem desata. Desde a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, todos os presidentes se arriscaram fazendo pedaladas e maquiagens fiscais. Apenas a presidente Dilma Rousseff foi atingida, mas Bolsonaro pode ser a próxima vítima, porque já existem cerca de 50 pedidos em cima da mesa do deputado Rodrigo Maia, que decididamente não é confiável.