Articulista analisa a situação do ex-presidente Lula após condenação em 2ª instância:
A decisão do Tribunal Regional Federal homologando, e até ampliando, a pena imposta pelo juíz Sérgio Moro ao ex-presidente Lula, encerra mais um capítulo da História do Brasil e o afasta da eleições presidenciais de outubro deste ano. Pois a unanimidade dos três desembargadores limita a apresentação de recursos que possam causar efeitos suspensivos da sentença. Cabe, apenas, os embargos declaratórios, que se destinam, por lei, a obter esclarecimentos sobre pontos que suscitem dúvidas em torno da decisão.
Claro, mesmo assim o PT vai lançar a candidatura de Lula à sucessão do Presidente Michel Temer. Mas do lançamento ao registro pela Justiça Eleitoral corre uma longa estrada. Lançar uma candidatura é uma coisa. Obter o registro, outra.
EFEITO SUSPENSIVO – Para Lula obter o registro é necessário que haja um efeito suspensivo da pena capaz de fazer o candidato saltar o obstáculo erguido pela Lei da Ficha Limpa. E os candidatos, para poderem desencadear suas campanhas, é indispensável que seus nomes sejam liberados pelo TSE.
A partir de fevereiro Gilmar Mendes, atual presidente do Tribunal, será substutuído por Luiz Fux.
Como sustentou Èlio Gaspari no seu artigo de ontem em O Globo e na Folha de São Paulo, a política brasileira ultrapassa agora a era de Luiz Inácio Lula da Silva e ingressa na fase pós Lula. E o Partido dos Trabalhadores terá que buscar uma forma de preencher o espaço vazio deixado pelo seu único líder.
WAGNER E GENRO – A este respeito, o Valor de quarta-feira publicou matéria contendo declarações dos ex-governadores Jaques Wagner e Tarso Genro. São dois nomes que, de forma indireta, já se colocaram à disposição da legenda. Melhor a situação de Jaques Wagner, uma vez que Tarso Genro foi derrotado no último pleito no Rio Grande do Sul. Entretanto, Lula terá que ser ouvido, pois sua força é indispensável, tanto assim que ele liderou as mais recentes pesquisas do Datafolha e Ibope.
É pouco provável que Lula venha a apoiar qualquer candidato fora da sua legenda. Sob esse aspecto, não resultará em nada o esforço de Ciro Gomes em se apresentar como alternativa, alternativa importante, já que as eleições de outubro incluem os governos estaduais, o Senado Federal, a Câmara dos Deputados e ainda as Assembleias Legislativas.
Assim é fundamental, não só para o PT, mas para todos os Partidos, possuírem candidatos aos postos majoritários, de presidente da República, governador e senador. O dilema está colocado. É praticamente impossível o apoio do PT a Geraldo Alckmin, principalmente porque o chefe do Executivo paulista parece ser o nome preferido de Michel Temer, porque formou na corrente que conseguiu o impeachment de Dilma Rousseff.
POUCAS ALTERNATIVAS – Bolsonaro, nem pensar. Como se constata há poucas alternativas colocadas para Lula e o PT. Marina Silva saiu rompida com Lula na metade de seu primeiro governo. Dificilmente a Rede se reaproximará do Partido dos Trabalhadores. A sorte está lançada.
Como disse ontem, não pode haver espaço vazio em matéria de poder. Assim, o vazio de hoje será fatalmente ocupado pela presença de alguém amanhã. Basta esperar que a política passe do crepúsculo ao alvorecer.
Pedro do Coutto