Contrariando a promessa do presidente Jair Bolsonaro, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, afirmou em entrevista ao GLOBO que a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) não será extinta. Ele afirma que a ideia é racionalizar a empresa e otimizar seu orçamento.
Santos Cruz também pretende fixar critérios para as liberações de emendas parlamentares, que são impositivas, sem diferenciar parlamentares por serem do governo ou da oposição. O ministro quer ainda incluir dentro do Programa de Parceria de Investimentos (PPI) algumas obras inacabadas que forem consideradas estratégicas.
Durante a campanha, o presidente Bolsonaro chegou a falar em extinção da EBC. O que acontecerá com a EBC?
A EBC é uma empresa que tem duas televisões, oito emissoras de rádio e duas agências. Ela tem uma estrutura que acho que é um momento de fazer uma racionalização, sem dúvida nenhuma. Mas isso é preciso fazer respeitando o quadro de funcionários, respeitando os direitos dos funcionários, daqueles que trabalham lá. Tem que otimizar a parte de orçamento, tem que diminuir as despesas, tem que aumentar a qualidade. Isso já está mais ou menos equacionado. Nós tivemos uma primeira reunião e pedi para o pessoal um plano para ver na semana que vem o que vai fazer. Sem dúvida nenhuma, é uma empresa que hoje está com 2.025 pessoas em todo o seu conjunto, por isso é importante a modificação. Mas a primeira coisa é fazer isso respeitando o quadro de funcionários.
A ideia é acabar com a EBC?
A ideia não é acabar. A ideia é aproveitar o máximo que der da estrutura, mas fazer uma racionalização para fazer mais atualizada, mais ágil, sem ideologia, ver quais os princípios que ele vai difundir. Não pode, não tem interesse nenhum de competir com os veículos de comunicação tradicionais. Ela não pode ter ideia de competir, mas só de complementar. Ela vai passar por modificações em curto prazo sem dúvida nenhuma para se ter mais efetividade.
O governo vai priorizar contato direto com a população e reduzir o relacionamento com a imprensa?
Qual foi o grande fenômeno nessa eleição? Existe uma forma direta de comunicação que não é o veículo de massa, da maneira como vinha sendo. E você vê que muitos veículos se afastaram da realidade e não tiveram influência, com toda a tecnologia, com toda a rede montada, com toda a especialidade de comunicação. Cadê o marqueteiro? Se acreditava que tinha que ser um cara super expert em marketing para fazer sua imagem. Sumiu? Você teve 57 milhões de brasileiros, cada um bolando um vídeo, uma piada, uma mensagem. Parte da imprensa não percebeu que ela já não tinha tanto esse poder influencia, de fazer presidente, de desfazer presidente. E hoje está crescendo muito a mídia digital. Hoje você faz uma comunicação direta, hoje eu coloco uma mensagem num grupo de WhatsAPP e em 30 minutos está com 10 mil, 15 mil acessos. Você tem uma comunicação digital que está crescendo. Na minha conversa com a Secom, perguntei qual é a parcela da nosso trabalho em mídia digital. É de 15%. Vamos aumentar. Hoje o setor privado está jogando 80% do recurso dela na parte de mídia digital. Você pode se comunicar direto com o cidadão.
O senhor falar em 80%. A ideia é aproximar disso?
Não, não. É apenas uma referência. Vamos aumentar. A orientação é que vamos aumentar a presença em mídia digital. É o momento. Não adianta você querer ficar agarrado no tradicional se o dinamismo está impondo outra coisa.
O senhor é responsável pela Secom e o governo teve problema de comunicação nestes primeiros dias, como resolver essa questão?
São 22 ministros e estamos nos primeiros dias, é normal você ter no primeiro, segundo, terceiro dia, um desencontro aqui outro ali. Um dia para trás já virou parte do passado. A harmonia está em franca ascensão, nós tivemos uma reunião e a sensação que eu tive é que a integração e a harmonia estão numa ascendente muito boa. É natural que com a convivência você vai reconhecendo o modo de pensar de um e de outro, a facilidade de comunicação, a liberdade de comunicação. Não traz prejuízo nenhum, de vez em quando dá um arranho desses aí. Passou, passou, vamos embora.
Vocês avaliam que essa comunicação que está sendo feita hoje é suficiente para dialogar com a população em temas difíceis, como a reforma da Previdência?
Vejo por mim, eu lia jornal, já pego aqui (pega o celular) e já dou uma olhada por aqui, se quiser tem até os resumos dos jornais. Antigamente tinha os jornalões… Hoje para dar conta do Whatsapp é dificil, então essa comunicação com a população pode ser dividida com uma mensagem presidencial pelo Twitter, ela se espalha com uma velocidade incrível, atinge milhões de pessoas em uma, duas horas. É importante também para manter a população motivada. O nível de politização está muito alto, qualquer um acompanha tudo seja por piada, por texto, por imagem na rede social. É importante que a população fique ligada. O congresso também tem que levar em consideração isso daí. E sem dúvida leva. Hoje tem 249 deputados novos que usaram esses recursos todos. Muitos políticos tradicionais fizeram alianças políticas no velho estilo e ficou todo mundo de fora.
O senhor ficou com a liberação de emendas e o ministro Onyx com a negociação política, isso vai ser separado agora?
Uma coisa é a parte política, outra coisa é você seguir os critérios, independente da parte política, Tem coisas que são impositivas, aquilo que é impositivo você tem que tratar igual todos os parlamentares. Tem que tomar muito cuidado para não ser injusto no trato da emenda, afinal de contas é um direito do parlamentar, de qualquer partido, de ter o benefício na base. O fim do filme é o benefício à população. Tem que tomar muito cuidado para não atrasar, seja lá de quem for.
Como vocês vão fazer a gestão de emendas. Vocês vão balizar algum programa para execução?
Eu vou conversar com o Onyx para estabelecer critérios para que ninguém se sinta prejudicado.
Mesmo da oposição?
Mesmo da oposição. A oposição também foi eleita igual todo mundo. Não é por aí a negociação política. Tem que tomar muito cuidado para fazer a parte política sem ferir o trabalho do parlamentar, seja ele quem seja.
Então emenda parlamentar então não tem mais a ver com negociação política?
Não estou dizendo que não tenha a ver, mas a gente vai discutir a visão para não prejudicar ninguém, porque isso aí é uma coisa que não existe para o parlamentar, existe para a população que está na ponta da linha. Não pode trabalhar com premissa de beneficiar ou atrapalhar. Isso não pode ser premissa de trabalho.
O PPI ficou na sua pasta, qual é a ideia de trabalho?
O PPI é absolutamente técnico. É uma lista de obras públicas necessárias ao país onde o governo não investe, ele oferece para a iniciativa privada fazer investimento, com o próprio risco, com o próprio capital, mas dando garantia da qualidade técnica do estudo, da segurança jurídica, porque o investidor vai fazer uma estrada, uma ferrovia e vai administrar 30 anos. Então, o PPI depende de credibilidade técnica e da transparência, da absoluta limpeza de todo o processo, sem qualquer risco de irregularidade. Isso que dá sucesso ao PPI. Já foram vendidos, leiloados, nos últimos 30 meses, cerca de 125 projetos. Estamos indo a Porto Alegre na sexta-feira para fazer a assinatura de uma rede de estradas no Rio Grande do Sul que é um investimento de cerca de R$ 7 bilhões, com mais R$ 5 bi de manutenção. Então é um programa que vem se desenvolvendo. Isso daí é extremamente importante. E vai ser ampliado esse bolo de ofertas. Com as vendas, vai diminuindo a oferta de produtos. A gente vai fazer agora a seleção de algumas obras inacabadas. O Brasil tem milhares de obras inacabadas. Então nós vamos solucionar algumas mais estratégicas e oferecer nesse bolo para poder concluir.
Vai oferecer essas obras inacabadas com taxas mais atrativas?
Não é só pela atração da taxa de retorno, é pela necessidade estratégica de acabar aquela obra. Às vezes você tem uma estrada de milhares de quilômetros interrompida por um trecho de 100 quilômetros. A seleção ainda vai ser feita. São obras que estavam sendo tocadas pelo governo federal e a proposta é concluir a partir do PPI. Mas você tem que fazer um estudo técnico, ver se não tem embaraço nenhum na área jurídica, se não tem embaraço em terras indígenas, meio ambiente. Tem um trabalho grande para fazer. Aí você coloca também em oferta nesse bolo, de 70 e poucos que a gente tem hoje. Vamos ver o que tem inacabado e vamos fazer uma análise na próxima semana, pinçar algumas poucas. Muita coisa dá para conseguir investimento privado na conclusão. Se você andar pelo Brasil, onde foi cidade-sede da Copa do Mundo ainda tem coisa para acabar. Claro que tem coisas pequenas que você não vai gastar energia no processo, mas alguma que você classificar como estratégica.
TI