Opinião

Governo desmorona e se aproxima do fim: Bolsonaro derrubou a si mesmo

Pedro do Coutto

Com a decisão do Supremo Tribunal Federal e o imediato cumprimento por parte do senador Rodrigo Pacheco instalando a CPI da Saúde, que tanto o governo se esforçou para bloquear, o quase ex-presidente Jair Bolsonaro, vitorioso nas urnas de 2018, se aproxima do fim, não podendo culpar ninguém, uma vez que foi ele próprio que criou a situação de calamidade que hoje envolve o País.

Poucas vezes, talvez nenhuma, através da história, pode-se contemplar o acúmulo de erros em todas as direções desde o seu início até o final que a meu ver será revelado em poucas semanas, talvez até em poucos dias. Foi um desastre total o combate ao coronavírus, posições em colisão com a Ciência no que diz respeito à vacinação, o propósito de atribuir à cloroquina eficácia onde não existia, e a interpretação equivocada levando à demissão de Henrique Mandetta, uma outra iniciativa tão incrível como a revelada pela passagem do general Eduardo Pazuello na Saúde.

DECRETO DAS ARMAS – Os erros e absurdos não param aí. Há o Decreto das Armas que só prejuízos podem causar à população somada ainda à questão do meio ambiente, nomeando o ministro que é contrário à preservação das florestas e se apresentou como adversário no combate ao desmatamento e às queimadas na região amazônica.

O resultado da soma de tais fatores negativos não podia deixar de ocorrer quando a administração Bolsonaro ingressará no terceiro ano de seu mandato. Além disso, há a gravação da conversa entre o presidente da República e o senador Jorge Kajuru. Deve-se frisar também como algo que sintetiza a falta de nível para o cargo, a ameaça de Bolsonaro ao senador Randolfe Rodrigues focalizando a hipótese de uma luta corporal.

CONVERSA COM KAJURU – O artigo do jornalista Ruy Castro na Folha de São Paulo desta quarta-feira ilumina com intensidade o lado sombrio de um período de governo que todos começaram a  esquecer. O professor Hélio Schwartsman, também na Folha de São Paulo, escreve sobre o episódio da gravação, com a conversa entre Kajuru e Bolsonaro. O presidente em alguns momentos do diálogo incentiva a troca de opiniões.

Em outros momentos, queixa-se da gravação e daquilo que disse. Schwartsman analisa a questão sob diversos aspectos: ético, moral e também sob a lente da obrigação legal caso a conversação incluísse uma proposta de suborno a uma autoridade pública.

Schwartsman usa a lógica de sempre. Mas acrescento um outro aspecto relativo à gravações: a possibilidade de um interlocutor fazer perguntas de surpresa ao outro na busca de uma resposta que seja desfavorável a ele e favorável a quem grava.