Opinião

Guedes é um farsante e o presidente Bolsonaro logo vai perceber essa realidade

Qual é o maior problema brasileiro? Se depender da mídia, seja grande, média ou pequena, tudo se resume à reforma da Previdência Social. Simples assim. Nesse sentido, o aparentemente todo-poderoso Paulo Guedes, em seu primeiro discurso como ministro da Economia, fez uma declaração inacreditável, sem qualquer base na realidade, e os jornais publicaram em manchete, como se fosse um fato concreto.

A despesa da Previdência é o primeiro e principal desafio a ser enfrentado. Se for bem-sucedido esse enfrentamento, temos dez anos de crescimento sustentável pela frente”, disse Guedes, com a segurança dos Oráculos de Delfos, na Grécia Antiga, que eram ridicularizados por Sócrates.

QUEM ACREDITA? –  Somente os néscios (hoje chamados de nerds) podem acreditar numa patacoada dessa envergadura. O principal problema do Brasil não é o déficit da Previdência, que pode ser reduzido com alguns acertos, caso a economia volte a crescer, os gastos em assistência social sejam desvinculados do INSS, a corrupção seja contida e também acabe a sangria da pejotização, que o próprio Bolsonaro já denunciou várias vezes.

Qualquer estudante de economia sabe que o grande desafio brasileiro é o déficit primário – os diversos níveis de governo (federal, estaduais e municipais) gastam mais do que arrecadam, estão endividados e, se fossem empresas, estariam pré-falidos.

Não por mera coincidência, em dezembro o deputado Rodrigo Maia, no exercício interino da Presidência, sancionou a lei permitindo que as prefeituras ultrapassem os limites dos gastos de pessoal, sem punição da Lei de Responsabilidade Fiscal.

FORA DO LIMITE – 0 fato concreto é que a maioria dos Estados e Municípios têm dificuldades para pagar servidores, aposentados e pensionistas. Desde o governo do trêfego Fernando Henrique Cardoso (“esqueçam tudo o que escrevi”), os servidores públicos formaram castas e passaram a ser remunerados como se estivessem no melhor dos mundos. Tanto na ativa como na aposentadoria, a crise econômica não os atinge. E agora não é mais possível reverter esse quadro, porque o Supremo considerou tudo como direito adquirido.

No entanto, o ministro Paulo Guedes comporta-se como se nada disso existisse e a dívida pública bruta não ameaçasse o país inteiro. Diz que os pilares do governo serão a reforma da Previdência, as privatizações e a redução de impostos. “O Brasil deixará de ser o paraíso dos rentistas”, assegura, referindo-se aos capitalistas sem risco, que lucram com o rendimento do capital, sem aplicar o dinheiro em empreendimentos empresariais, sem criar empregos nem distribuir renda.

SEM RENTISMO – Guedes é um farsante. Com a queda dos juros da Selic este ano, agora só os grandes capitalistas conseguem ser “rentistas” (neologismo criado por Karl Marx). Descontada a inflação, o lucro dos pequenos e médios aplicadores caiu para algo em torno de 1% a 3% ao ano, a não ser que se trate de investimentos a longo prazo, quando o lucro então sobe para entre 6% e 8% ao ano, no máximo.

Até agora, o ministro da Economia não deu uma palavra sobre a dívida pública bruta nem sobre os lucros abusivos dos bancos brasileiros, que em plena crise conseguem as maiores rentabilidades do mundo. Guedes não é um economista de empresa, preocupado em custo/benefício e produtividade. Na verdade, trata-se de um economista com alma de banqueiro e de corretor financeiro, inteiramente curvado ao Deus Dinheiro. Decididamente, não pode ser e nunca será o homem certo para defender os interesses nacionais.

Carlos Newton – TI