(Allan Kardec Barros e Alberto Garcia Figueiredo) – O Globo

Os corais da Amazônia são um mito! Há anos circulam imagens que seriam de corais originários da Bacia Sedimentar da Foz do Amazonas. Elas causaram tanta comoção no Brasil que até apareceram em camisetas e novelas. E, em recente coluna no Globo, assinada por Miguel De Almeida, encontramos a afirmação de que “existe um recife de corais, descoberto em 2016, riquíssimo em biodiversidade, do tamanho do estado da Paraíba”.

Precisamos de mais ciência no debate brasileiro, até para dar conforto aos decisores sobre os próximos passos. Seguindo esse raciocínio, um grande grupo de cientistas foi formado e há cinco anos vem estudando e pesquisando a Margem Equatorial Brasileira (MEQ).

AMAZÔNIA AZUL – Hoje temos a maior rede de especialistas — formada por pesquisadores de 14 universidades brasileiras, entre instituições do Norte e Nordeste e outras com grande tradição e conhecimento sobre a Margem Equatorial Brasileira (MEQ) —, chamada Rede Amazônia Azul.

Os corais podem ser entendidos como pequenos animais marinhos que se agrupam em colônias e muitas vezes têm esqueletos duros. Algas calcárias, por sua vez, possuem carbonato de cálcio, um mineral que forma o calcário, em suas paredes celulares. Elas são como “algas que se tornaram pedra”.

Em termos simples, a borda da plataforma continental é como a “borda” ou “fronteira” entre a parte rasa do oceano próximo à costa e sua parte mais profunda. A região de borda de plataforma da Bacia da Foz do Amazonas é recoberta por algas calcárias, em sua maioria mortas, pois seu ápice de desenvolvimento aconteceu entre 17 mil e 11 mil anos atrás, quando o nível do mar estava entre cem e 120 metros abaixo do atual, portanto na última Era do Gelo.

FALSO CORAL – Na borda da plataforma continental da Bacia da Foz do Amazonas, é possível que se encontre um ou outro indivíduo de coral vivo, mas não são formadores de colônias ou recifes, tanto pela espécie de coral quanto pela quantidade.

Da mesma forma, algas calcárias vivas também podem ser encontradas, mas tampouco formam recifes em função das qualidades ambientais atuais, em que são essenciais luminosidade, transparência da água e pequena profundidade.

Não foram os cientistas, mas leigos, possivelmente ligados a movimentos internacionais muito ricos e muito bem articulados, que criaram o mito, distribuindo imagens de corais cujas características nos fazem suspeitar que possivelmente foram feitas no Caribe.

OUTRA REALIDADE – Faixa carbonática de borda de plataforma é uma região geológica onde as rochas sedimentares predominantes são compostas de carbonato de cálcio. No Brasil, as algas calcárias formam uma faixa carbonática na borda de plataforma da Bacia Sedimentar da Foz do Amazonas e se estendem rumo ao sul até Santa Catarina.

A faixa carbonática atravessa também as bacias sedimentares de Sergipe-Alagoas, Espírito Santo, Campos e Santos.

A presença de algas calcárias vivas é bem maior nessas duas últimas e, bom enfatizar, é também onde há maior proximidade dos campos de petróleo quando se compara com a Bacia Sedimentar da Foz do Amazonas.

ABAIXO A PETROBRAS – Subjacente ao debate sobre os corais — ou maior que ele — é a clara intenção de acabar com a indústria de petróleo e gás do Brasil, o que se entende como um claro movimento com digitais internacionais. Em termos simples, o intuito claro é fechar um dos maiores orgulhos da História nacional: a Petrobras.

Nenhuma fonte de energia nos dois últimos séculos foi dizimada ou desapareceu no mundo. Todas continuam sendo usadas há décadas, algumas sem seu uso cair (lenha ou nuclear) e outras (petróleo, carvão, gás natural, renováveis) com seu consumo aumentando diariamente, com tendência de alta.

A História mostra que a diversificação da matriz energética aconteceu — e nesse quesito o Brasil está onde o planeta gostaria de estar em 2050 — com uma matriz exuberantemente limpa. Mais ciência e menos ardil!

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Os autores do artigo estão entre os maiores especialistas brasileiros em energia e sabem muito bem o que estão denunciando. Allan Kardec Barros é professor titular da Universidade Federal do Maranhão e presidente da Gasmar, tem pós-doutorado no Riken, Japão, é ph.D. pela Universidade Nagoya, Japão, e foi diretor da Agência Nacional do Petróleo. Alberto Garcia Figueiredo é professor titular da Universidade Federal Fluminense e doutor em geologia e geofísica marinha pela Universidade de Miami. O artigo deles, curto e grosso, é um primor de informação. (C.N.)