Política

Investigado: Jaques Wagner teria levado R$ 82 milhões pelas obras no estádio da Fonte Nova

A delegada da Polícia Federal Luciana Matutino Caires, responsável pela Operação Cartão Vermelho, deflagrada nesta segunda-feira, dia 26, afirmou que o ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT) recebeu ‘boa parte’ do valor desviado do superfaturamento do estádio Arena Fonte Nova, em Salvador. O petista teria levado R$ 82 milhões em propina e caixa 2, segundo a investigação.

Jaques Wagner governou o Estado entre 2007 e 2014. Ele foi alvo de mandado de busca e apreensão da Cartão Vermelho. A investigação mira irregularidades na contratação dos serviços de demolição, reconstrução e gestão do estádio da Copa 2014. A Polícia Federal identificou que ‘a licitação que culminou com a Parceria Público Privada nº 02/2010 foi direcionada para beneficiar o consórcio Fonte Nova Participações – FNP, formado pelas empresas Odebrecht e OAS’.

SUPERFATURAMENTO – “Em razão das delações da Odebrecht e de material apreendido na OAS, nós verificamos que de fato o então governador recebeu uma boa parte do valor desviado do superfaturamento para pagamento de campanha eleitoral e de propina. Havia dois intermediários, seja pela OAS seja pela Odebrecht que também foram alvo de busca nesta data. Um destes intermediários é o atual secretário da Casal Civil do Governo do Estado da Bahia e outro é o empresário muito próximo do então governador e também foi alvo de busca nesta data”, afirmou a delegada.

A Cartão Vermelho cumpriu sete mandados de busca e apreensão, em Salvador. A PF vasculhou o gabinete de Jaques Wagner na Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Governo do Estado, Pasta comandada pelo petista. O chefe da Casal Civil do Governo da Bahia Bruno Dauster também foi alvo de buscas. Em nota, a PF informou que ‘dentre as irregularidades já evidenciadas no inquérito policial estão fraude a licitação, superfaturamento, desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro’.

PROPINA – “A obra, segundo laudo pericial, foi superfaturada em valores que, corrigidos, podem chegar a mais de R$ 450 milhões, sendo grande parte desviado para o pagamento de propina e o financiamento de campanhas eleitorais.”

Os mandados expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região – estão sendo cumpridos em órgãos públicos, empresas e endereços residenciais dos envolvidos no esquema criminoso, e têm por objetivo possibilitar a localização e a apreensão de provas complementares dos desvios nas contratações públicas, do pagamento de propinas e da lavagem de dinheiro.

“PERSEGUIÇÃO” – A cúpula do PT classificou as buscas da Polícia Federal na casa do ex-governador da Bahia Jaques Wagner como “mais um episódio da campanha de perseguição” contra o partido e acusou abuso de autoridade de “setores” do Judiciário. Wagner é o nome mais cotado, até agora, para ser candidato do PT ao Palácio do Planalto, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja impedido de concorrer por causa da Lei da Ficha Limpa.

“A escalada do arbítrio está diretamente relacionada ao crescimento da pré-candidatura do ex-presidente Lula nas pesquisas, nas manifestações populares, nas caravanas de Lula pelo Brasil”, escreveu a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffman (PR), em nota divulgada nesta segunda-feira, 26. “Quanto mais Lula avança, mais tentam nos atingir com mentiras e operações midiáticas.” No texto, Gleisi afirma, ainda, que “a sociedade brasileira está cada vez mais consciente de que setores do sistema judicial abusam da autoridade para tentar criminalizar o PT e até os advogados que defendem nossas lideranças e denunciam a politização do Judiciário”.

COTADO – Atualmente no cargo de secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia, Wagner sempre apareceu como o mais cotado para substituir Lula, em caso de necessidade. O outro nome citado é o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, coordenador do programa de governo de Lula. Haddad tem feito articulações para que o PT se aproxime de partidos de centro-esquerda, na tentativa de formar uma aliança. O movimento foi avalizado por Lula, conforme mostrou o Estado na semana passada.

O ex-prefeito jantou recentemente com o ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência, e conversou sobre o assunto. Dirigentes do PT, porém, reclamaram de que a iniciativa reforçou as especulações sobre um Plano B para o lugar de Lula.

Com Estadão