Uma semana de funcionamento do Congresso já foi suficiente para mostrar que as coisas por ali não serão como antes. Mas também se pôde notar que muitas das mudanças não vieram exatamente de acordo com as expectativas. Foi um período rico em sinais, alguns esperados, outros surpreendentes. Há apenas uma certeza: o processo de acomodação das forças no Legislativo — e a definição de sua relação com os outros poderes — ainda está longe do fim.
“Há um processo amplo de realinhamento partidário”, afirma Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol-UnB). Haverá uma etapa fundamental nesta semana: a distribuição do comando das comissões. Por ora, a escolha das mesas diretoras das duas casas é a mais eloquente demonstração do novo arranjo. O MDB, que tem a maior bancada no Senado, ficou apenas com a Segunda Secretaria da casa.
Na Câmara, porém, o partido, que conquistou nas urnas a segunda maior bancada, atrás apenas do PT, enfrenta divisões internas. O líder do governo, Major Vítor Hugo (PSL-GO), não conseguiu juntar quórum significativo de deputados nas reuniões que marcou. E, pior, tem pouco trânsito entre líderes partidários. Um dos problemas é que ele é do mesmo estado do líder do partido, Delegado Waldir, e disputa espaço com ele entre eleitores.
A reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para presidente da Câmara foi tranquila e a ela se seguiu a escolha de toda a Mesa, ainda na sexta-feira, o primeiro dia do mês. No Senado, a disputa foi intensa, tumultuada e prolongou-se pelo fim de semana. Mas o que se vê agora é o inverso: uma situação muito mais serena na câmara alta do que na baixa. “Esperava-se que Alcolumbre seria um desastre como presidente, já que é pouco experiente. Mas o que se está vendo é o inverso. Em terra de cego, quem tem um olho é rei”, afirma Antônio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Análise Parlamentar (Diap).