Judiciário

Lava Jato planejou investigar Gilmar Mendes, apontam mensagens

Diálogos atribuídos a procuradores da Operação Lava Jatoem Curitiba, obtidos pelo The Intercept Brasil e publicados nesta terça-feira pelo jornal El País, sugerem que os integrantes da força-tarefa planejaram buscar provas e informações contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)Gilmar Mendes, para afastá-lo de processos e até do cargo.


As mensagens mostram que, liderados pelo procurador Deltan Dallagnol, os integrantes da Lava Jato tramaram acionar investigadores na Suíça para tentar coletar documentos que comprometessem Gilmar Mendes, além de averiguar decisões do ministro para fundamentar a ofensiva. A estratégia contra o ministro foi debatida ao longo de meses pelo grupo.

Desde 2017, Dallagnol expressava no grupo de procuradores o desejo do impeachment de Gilmar Mendes, alegando que o ministro queria “desmontar as investigações de corrupção”. As mensagens revelam que ele buscava sistematicamente alguma forma para afastar o magistrado das ações da operação. “Sonho que Toffoli e Gilmar Mendes acabem fora do STF rsrsrs”, afirmou em abril de 2017.

Em maio de 2017, Dallagnol chegou a cogitar ele mesmo entrar com um pedido de impeachment contra o ministro, caso ele concedesse um habeas corpus a Antonio Palocci. Os outros procuradores, porém, não apoiaram a ideia e argumentaram que seria melhor que o pedido não fosse feito pelos integrantes da Lava Jato.

Ao longo dos anos, o procurador mobilizou assistentes para apurar decisões e acórdãos do ministro para um eventual processo. “Pede pros estagiários pegarem e gerarem arquivos para todos os casos em que Gilmar Mendes negou liminar e indeferiu HC [habeas corpus] para revogar prisões desde 2014”, solicitou a um assessor em setembro de 2018. “O propósito é mostrar eventuais incongruências com os casos da Lava Jato. Faz tempo que já devíamos ter feito isso”, acrescentou.

Após a terceira prisão de Paulo Preto, apontado como operador financeiro do PSDB, em fevereiro deste ano, os procuradores da Lava Jato planejaram entrar em contato com investigadores na Suíça para tentar rastrear uma ligação entre o detido e Gilmar Mendes e buscar assim a suspeição do ministro ou até mesmo seu impeachment.

O magistrado já havia concedido dois habeas corpus em favor de Paulo Preto e os procuradores suspeitavam que o ministro poderia ser beneficiário de contas e cartões que o operador possuía na Suíça. Esse material estava sendo analisado por investigadores europeus. “Tem o boato de que parte do dinheiro fora era do Gilmar Mendes”, escreve Dallagnol.

Ao longo do diálogo, Dallagnol sugere a ampliação do pedido de cooperação com a Suíça. O procurador Roberson Pozzobon respondeu que a solicitação já foi feita e comenta que poderia aparecer Gilmar Mendes como beneficiário do operador.
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