Carlos Newton
O artigo publicado pelo grande jornalista José Carlos Werneck aqui na Tribuna da Internet, neste sábado (dia 7), causou-me muita preocupação. Antes de ler esse texto, eu pensava (?) que as manifestações do dia 15 pudessem ter um desfecho menos perigoso para a democracia brasileira, ou seja, representassem apenas um acidente de percurso, que pudesse ser superado a médio prazo, e vida que segue, como dizia nosso amigo João Saldanha.
Na minha visão estreita e distorcida, eu imaginava que as manifestações tivessem comparecimento apenas de uma minoria de fanáticos bolsonaristas, que devotam adoração religiosa ao “Mito”, atribuem a ele a infalibilidade divina, não conseguem analisar o que o presidente faz de certo ou errado. Mas eu estava enganado.
DISSE WERNECK – No artigo sobre a importância das manifestações do dia 15, disse o jornalista José Carlos Werneck: “Se você está farto de tantos privilégios dos membros dos Poderes da República que tornam ainda mais cruel a desigualdade social e mais injusta a distribuição de renda do País, não deixe de comparecer às manifestações que terão lugar nas principais cidades brasileiras no próximo domingo”.
E acrescentou: “Igualmente, compareça também se você não concorda com regalias como casas ou apartamentos funcionais, de excelente padrão, auxílio-moradia, auxílio-paletó, auxílio-alimentação de alto custo, auxilio-educação para os filhos, carro, oficial, passagens aéreas, jatinhos à disposição, auxílio-saúde, com direito a hospitais de alto padrão, como o Sírio Libanês, o Albert Einstein e outros de altíssima qualidade, para uma casta privilegiada, e defenda seus pontos de vista”.
DIREITOS ADQUIRIDOS – Jamais me passou pela cabeça que as manifestações pudessem ser engrossadas também por pessoas que são críticas a Bolsonaro e não aprovam a maneira como governo e se comporta na Presidência, mas também não aceitam regalias funcionais da chamada nomenclatura civil e militar, como o próprio Werneck.
No entanto, ao ler o artigo dele, percebi que existe realmente a possibilidade de ocorrer uma macro manifestação, fortalecida por participantes que são da maioria silenciosa e não apoiam Bolsonaro e suas paranoias, porém não aguentam mais a exploração do povo por aqueles que desfrutam de supostos “direitos adquiridos”, até porque nenhum “privilégio” jamais poderá ser considerado um “direito”.
De repente, tudo muda de figura e as manifestações podem ser de tal ordem que façam como que Bolsonaro, seus filhos e áulicos passem a pensar (?) que podem tudo e aumentem seu autoritarismo latente.
O RISCO EXISTE – O próprio Werneck ressalva que “não se trata, absolutamente, de ser a favor do fechamento do Congresso Nacional e do Poder Judiciário, mas tão somente de coibir abusos e privilégios contrários a um princípio basilar de qualquer Democracia: “Todos são iguais perante a Lei”!
Mas acontece que a manifestação não será considerada assim. Desde sempre, trata-se de um protesto contra o Congresso e o Supremo, promovido a favor do governo (leia-se: Jair Bolsonaro).
Em tradução simultânea, a partir de agora o radicalismo vai aumentar, ameaçando a estabilidade democrática do país, e ninguém realmente sabe o que poderá acontecer.