(Carlos Newton)

Sinceramente, alguém precisa informar urgentemente à elite dos oficiais superiores deste país que eles precisam recuperar o prestígio que sempre tiveram e agora não têm mais. As pesquisas de opinião mostravam que os militares eram a categoria profissional da maior respeitabilidade, mas eles foram mudando “no decorrer do período”, como dizem os meteorologistas ao tentar justificar erros nas previsões do tempo.

A geração que está hoje na terceira idade pegou a época em que as pessoas eram mais simples. Militares, juízes, professores, políticos e profissionais liberais eram integrantes da classe média, vivam de uma forma regrada, não havia suntuosidade. Agora, tudo mudou. Vamos ser francos, todo mundo quer encher os bolsos, sem se incomodar com a coletividade. E foi assim que criamos o país mais desigual do mundo, sem que as pessoas se deem conta do que significa essa tragédia cotidiana.

FAZER CARREIRA – Houve um tempo que os jovens faziam carreira, entravam no serviço público com salário modesto, iam galgando promoções, através do tempo. Agora, tempo é dinheiro e são comuns os concursos públicos em que os aprovados começam logo ganhando entre 10 e 15 salários mínimos e têm uma porção de vantagens, regalias, penduricalhos, é um nunca-acabar.

O maior exemplo dessas distorções é a magistratura. Os juízes brasileiros conquistaram todas os privilégios possíveis e imagináveis, transformando-se numa casta de fazer inveja à fértil imaginação de Feodor Dostoievski. E o exemplo foi seguido pelos tabeliães, procuradores, promotores e defensores públicos, que se acharam no direito de ter as mesmas regalias.

Idêntico caminho abriu-se aos chamados serventuários da Justiça, que foram ganhando privilégios, porque sabem o que os juízes fizeram no verão passado e não podem ficar tão distantes assim, em termos de favorecimento, eis a realidade.

PODRES PODERES – Como todos os caminhos levam aos cofres públicos, os integrantes do Poder Legislativo seguiram a mesma direção. Hoje, já se aproximaram muito dos magistrados em termos de altíssimos salários e regalias, podem até abastecer jatinhos com verba parlamentar, vejam a que ponto de distorção e podridão chegamos.

É claro que os servidores do Legislativo não poderiam ficar atrás e também começaram a conquistar privilégios em termos de salários e outras generosidades funcionais que demostram a surpreendente criatividade dos homens públicos brasileiros no tocante a criar “auxílios” de toda sorte — e ponham sorte nisso.

Nessa corrida maluca em busca de exploração do homem pelo servidor público, o Executivo foi ficando para trás, até o governo do trêfego Fernando Henrique Cardoso, aquele presidente que se aposentou precocemente sem trabalhar e chamou os aposentados de “vagabundos”, como se estivesse se referindo a si próprio, pois no exercício do poder FHC jamais chegava ao Planalto antes das 13 ou 14 horas, vocês sabiam?

TUDO IGUAL – Como o sol nasce para todos nessa revoltante distorção, os membros do Executivo também estão chegando ao Olimpo, com salários já comparáveis aos dos outros Poderes e que se somam aos generosos jetons por participação em conselhos de estatais, havendo casos de recebimento de R$ 52,6 mil (metalúrgica Tupi) ou R$ 34 mil (Itaipu) por apenas uma reunião mensal, além da diária pela viagem…

Os militares ficaram por baixo na era do PT, mas foram à forra com Bolsonaro. Além de não perderem um centavo na reforma da Previdência, ganharam formidável aumento de soldos, gratificações etc. O mais incrível é que recebem espantosos pagamentos extras quando saem da ativa. O recordista é o tenente-brigadeiro Juniti Saito, ex-comandante da Aeronáutica, recebeu um montante bruto de R$ 1,4 milhão, em abril de 2020, quando o salário habitual era de R$ 35 mil, acreditem se quiserem.

E agora, a grande novidade. Com apoio do complacente ministro da Defesa, José Múcio, os militares querem novo aumento salarial, a pretexto de que os praças e suboficiais estão ganhando muito pouco. Ora, então seria o caso de aumentar apenas os soldos deles, mas quem resiste a dar mais uma mordida na grana da desprotegida Viúva?

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P.S. 1
 – Em meio à progressiva dilapidação do erário, essa casta de privilegiados trabalha cada vez menos. Aliás, há muitos e muitos anos nenhum juiz comparece às sextas-feiras, e as varas funcionam em regime de plantão, enquanto as casas legislativas federais e municipais operam de terça a sexta, e as municipais somente uma ou duas vezes por semana. Mas agora a coisa piorou, porque os juízes já fazem as sessões por videoconferência e nem precisam sair de casa. E os funcionários do Executivo, é claro, seguem na mesma balada.

P.S. 2 – Em meio a essa vagabundagem institucionalizada, alguém precisa explicar por que juízes, parlamentares e outras autoridades têm luxuosos carros oficiais, com motorista, manutenção e combustível pagos pelo contribuinte, se agora eles praticamente só trabalham em casa?

P.S. 3 – O editor da Tribuna é como o macaco do programa Planeta dos Homens e “só queria entender” por que o Brasil virou essa esculhambação institucionalizada. (C.N.)