Com o encerramento, na última sexta-feira, da janela partidária, ou seja, o mês permitido pela legislação para que deputados troquem de partido sem perder o mandato, os presidentes das legendas e líderes das bancadas na Câmara Federal estão finalizando a contabilidade para saber quantos integrantes aderiram e quantos desertaram. Por esses levantamentos, já passa de 70 o número de deputados que trocaram de sigla.
Na posse, em fevereiro de 2015, o PP tinha 38 deputados e agora fecha as contas com 54. Não lançará neste ano concorrente à Presidência da República e conseguiu atrair 16 deputados. Um dos principais argumentos para engordar sua bancada foi uma generosa partilha da verba do fundo partidário que, com a proibição de arrecadar doações na iniciativa privada, tornou-se essencial para muitos candidatos. O teto para financiamento de campanhas é de R$ 2,5 milhões, e o que se diz nos bastidores do Congresso é que o PP promete valor próximo a esse a seus filiados.
NA BASE ALIADA – A legenda integrou a base aliada do governo Dilma Rousseff e depois apoiou o impeachment, fechando aliança com o presidente Michel Temer. É um dos mais poderosos integrantes do “centrão”. Tem entre seus integrantes o deputado federal Paulo Maluf, ex-governador de São Paulo, que deixou recentemente a cadeia e hoje cumpre prisão domiciliar, por apresentar problemas de saúde
Apesar de manter a liderança, o PT vem perdendo integrantes nos últimos três anos. O partido iniciou a legislatura com 69 membros. Hoje está com 57. A maior parte buscou abrigo em legendas mais alinhadas à esquerda, com menor ou nenhum envolvimento com os escândalos de corrupção que abalaram a agremiação e levaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão.
O PMDB, partido do presidente Michel Temer, também vê sua bancada encolher. Se em 2015 eram 65 deputados, hoje são “provavelmente 53”, diz o líder do partido na Câmara, Baleia Rossi. Segundo o deputado, ainda faltava confirmar a situação de alguns parlamentares. Na janela, o PMDB perdeu 14 deputados, mas recebeu oito.
EM TRÊS PARTIDOS – O deputado pernambucano Fernando Bezerra Coelho Filho estava no PSB quando assumiu o ministério de Minas e Energia. Quando o partido resolveu romper com Temer, Coelho Filho ficou sem legenda e, aberta a janela, migrou para o PMDB. Mas permaneceu por pouco mais de duas semanas: no último dia de troca, acomodou-se no DEM. O deputado estava descontente com a confusão causada pela intervenção do PMDB nacional na direção da legenda em Pernambuco. Seu pai, o senador Fernando Bezerra Coelho, permaneceu entre os peemedebistas.
O PSDB também foi vítima de uma revoada. A bancada tucana na Câmara foi de 54 integrantes para 46. Além dos escândalos de corrupção, colaborou para as desfiliações a hesitação do partido em deixar o governo Temer.
O DEM e o PSL tiveram expressivo crescimento proporcional de suas bancadas. O primeiro, sob o comando do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), há três anos começou a legislatura com 21 integrantes e mais que dobrou, agora tem 44. Já o PSL elegeu apenas um deputado federal na última eleição. Agora, com a filiação do presidenciável Jair Bolsonaro (RJ), que deixou o PSC, a legenda inflou e chegou a sete componentes.
PASSE DISPUTADO – Cada deputado que decidiu aproveitar a janela partidária teve que informar a mudança ao Tribunal Eleitoral de seu estado. Nem sempre a legenda de origem e a de destino são imediatamente avisadas — por isso, dados de presidentes e lideranças podem ter pequenas variações.
No site da Câmara, a atualização demora ainda mais, pois não há prazo para comunicar a mudança. O tamanho das bancadas não interfere no montante de recursos dividido entre as legendas pelos fundos partidário e eleitoral. Mas o passe de cada deputado é disputado arduamente como uma aposta de longo prazo.
Como o sistema favorece a reeleição de parlamentares, as chances de que eles consigam um novo mandato são vistas como altas. Assim, em 2019, as legendas vão garantir mais dinheiro e mais tempo na TV para suas novas siglas. Além disso, os atuais parlamentares ajudam a pedir votos para aquelas que possuem candidaturas à Presidência e a governos estaduais.
O Globo