Opinião

O nordestino clama por “chuva de honestidade”

 

É secular o problema causado pela situação climática que abate a região do semiárido brasileiro. Em 1953 uma grande estiagem atingiu a região Nordeste, houve uma coleta de roupas e alimentos para socorrer os “irmãos nordestinos”, além de o Governo Federal, na época Getúlio Vargas, declarou Estado de Emergência na região.

A ação governamental, vista como esmola, não agradava a alguns nordestinos, a exemplo de Luiz Gonzaga e Zé Dantas.  Para denunciar e propor outro tipo de ajuda compuseram a música “Vozes da Seca”, que dentro do Congresso Nacional, um deputado em pronunciamento declarou que aquela poesia, valia mais que cem discursos.

Com o tempo a prática governamental passou de esmola a corrupção, com desvio de recursos destinados a socorrer os “flagelados” da seca. É possível, que políticos corruptos tenham torcidos para que esses períodos cíclicos de estiagem assolassem o Nordeste, para que, com ações emergenciais desviasse recursos para bancar as eleições.

Essa pratica nefasta aos recursos públicos, bancados pelos eleitores contribuintes, inspirou o poeta pernambucano da cidade de Bodocó, Flavio Leandro escrever uma canção, constatando que o problema da década de 50 ainda persiste, ou pior, se agravou.

Diz o poeta Flávio Leandro: “Eu pensei que tivesse resolvida, essa forma de vida tão medonha; Mas, ainda me matam de vergonha, os currais, coronéis e suas cercas; eu pensei nunca mais sofrer da seca, no nordeste do século vinte e um; onde até o voo troncho de um anum, fez progressos e teve evolução”.

Mesmo Com a construção do canal da transposição das águas do Rio São Francisco, milhões de nordestinos ainda sofrem com as consequências da seca, e ficam a mercê de políticos corruptos, que se utilizam da miséria de muitos para se locupletarem.

 

Chuva de Honestidade (Flávio Leandro)

Quando o ronco feroz do carro pipa, cobre a força do aboio do vaqueiro
Quando o gado berrando no terreiro, se despede da vida do peão
Quando verde eu procuro pelo chão, não encontro mais nem mandacaru
Dá tristeza ter que viver no sul, pra morrer de saudades do sertão

Eu sei que a chuva é pouca e que o chão é quente
Mas, tem mão boba enganando a gente, secando o verde da irrigação
Não! Eu não quero enchentes de caridade, só quero chuva de honestidade
Molhando as terras do meu sertão

Eu pensei que tivesse resolvida, essa forma de vida tão medonha
Mas, ainda me matam de vergonha, os currais, coronéis e suas cercas
Eu pensei nunca mais sofrer da seca, no nordeste do século vinte e um
Onde até o voo troncho de um anum, fez progressos e teve evolução

Israel é mais seco que o nordeste, no entanto se investe de fartura
Dando força total a agricultura, faz brotar folha verde no deserto
Dá pra ver que o desmando aqui é certo, sobra voto, mas, falta competência
Pra tirar das cacimbas da ciência, água doce que regue a plantação