O ministro da Justiça, Sérgio Moro, sofreu nesta quarta-feira, dia 27, mais um revés no Congresso. A bancada da bala tentou, mas não conseguiu reunir apoio suficiente dos líderes partidários para que a votação de um requerimento que poderia garantir urgência na análise do pacote anticrime, que reúne medidas prioritárias da pasta da Justiça.
Sem isso, o texto terá que ser votado em comissões antes de seguir para análise do plenário da Câmara, caminho que pode levar anos até ser concluído. “Para minha surpresa e decepção, não temos partidos suficientes para apresentar o requerimento de urgência para o pacote do ministro Sérgio Moro. Não será votado esse ano ao que tudo indica”, afirmou Capitão Augusto (PL-SP), coordenador da bancada da bala e relator da proposta do grupo de trabalho que analisa as medidas.
VOTOS INSUFICIENTES – Apenas cinco partidos – PSL, Novo, Podemos, Cidadania e Avante – sinalizaram que assinariam o pedido de urgência. Somados, eles têm apenas 170 votos, insuficientes para levar o requerimento à votação – o número mínimo é de 257. Sem o apoio de lideranças partidárias, o deputado anunciou que ia recolher individualmente as assinaturas.
Diante da frustração, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou que o Centrão vai apoiar o requerimento de urgência. Se a promessa for confirmada será possível analisar o conjunto de medidas ainda neste ano. “Não há necessidade desse constrangimento aos partidos. Vou colocar o pedido de urgência (em votação) na terça e votamos na quarta (da semana que vem)”, afirmou.
“AMEAÇAS” – Outros líderes do chamado Centrão aderiram a fala de Maia e também criticaram a postura do militar. Do Republicanos, Jhonatan de Jesus (RR) afirmou que o coordenador da bancada da bala usa de “chantagem” e “ameaças” para obrigar a votação. Arthur Lira (PP-AL) disse que nenhum acordo foi quebrado.
Questionado pelo Estado sobre a possibilidade de o pacote não ir à votação neste ano, Moro minimizou. “Não tenho essa informação.” O ministro tem enfrentado dificuldades para aprovar suas propostas no Congresso. Muitos partidos foram alvo de decisões tomadas por Moro no âmbito da Lava Jato.
RESISTÊNCIA – A votação das propostas de Moro encontra resistência dos partidos de centro e da oposição. O ministro tem feito peregrinação nas bancadas para tentar convencer os parlamentares sobre as medidas. Nesta quarta-feira, ele esteve pessoalmente na Câmara para tentar convencer a bancada do PSDB em um almoço que contou com a participação do deputado Aécio Neves (PSDB-MD) e outras lideranças tucanas.
A tramitação do pacote anticrime tem encontrado obstáculos na Câmara desde que a proposta chegou em fevereiro. Maia, para não atrapalhar a discussão da Reforma da Previdência, não mandou o texto às comissões e criou um grupo de trabalho para analisar as medidas. A manobra atrasou em pelo menos seis meses o andamento da discussão.
REINCLUSÃO – No grupo de trabalho, o texto foi modificado e pontos considerados fundamentais para o ministro foram retirados ou modificados. Na última semana, Moro se reuniu com os deputados do grupo de trabalho e pediu a reinclusão de algumas medidas. A solicitação foi rejeitada.
O ministro da Justiça queria a volta do artigo que prevê o chamado excludente de ilicitude na nova legislação. A medida de ilicitude foi descartada pelo grupo que debate o pacote anticrime dias após o assassinato da menina Ágatha, de oito anos, no Rio.
PLEA BARGAIN – lém do excludente, Moro queria a reinclusão do plea bargain, dispositivo que o acusado pode confessar o crime, abrindo mão do processo em troca de pena mais branda e do trecho que prevê a execução imediata das sentenças de tribunal do júri, entre outros.
“Respeito a posição do grupo de trabalho, mas continuamos buscando convencê-los e, depois, buscar convencer o parlamento, seja a Câmara ou seja o Senado. Nós acreditamos nas medidas e achamos que elas são importantes para redução da impunidade”, afirmou Moro sobre a posição do grupo.
Estadão