Opinião

Política brasileira sofre retrocesso brutal com os três Poderes apodrecidos simultaneamente

(Carlos Newton) – É inadmissível, inaceitável e intolerável que o Brasil tenha sido levado a esse retrocesso brutal que se registra hoje, sendo motivo de chacota internacional, não apenas pelo grotesco episódio do senador flagrado escondendo dinheiro na cueca, mas sobretudo pelo apodrecimento dos três Poderes da República, que vêm emporcalhando a imagem do Brasil no exterior, com Bolsonaro se transformando num fenômeno mundial (no mal sentido) e causando uma preocupação enorme com a Amazônia no resto do mundo, especialmente na matriz USA.

A imagem do Brasil está cada vez mais emporcalhada pelos desmandos nos três Poderes, a ponto de o presidente do Banco Central, Roberto Campos Filho, ter afirmado que a credibilidade da política econômica está arranhada, acrescentando que a fragilidade fiscal contribui para a desvalorização da moeda e destacando que o País perde investimentos externos por conta da política ambiental, conforme o jornalista William Waack acentuou em artigo no Estadão..

PERDA DE IDENTIDADE – Não mais que de repente, diria o grande brasileiro Vinicius de Moraes, o Brasil foi perdendo sua identidade, e isso começou a acontecer após o extraordinário governo de Itamar Franco, que foi sucedido pelo trêfego Fernando Henrique Cardoso.

A pretexto de reduzir a dívida externa, FHC abriu as torneiras das privatizações “no limite da irresponsabilidade”, como definiu Ricardo Sérgio de Oliveira, então diretor da Área Internacional do Banco do Brasil.

FHC era farsante e incompetente. Reduziu a dívida externa, que cobra baixos juros, e escancarou a dívida interna, com juros muito maiores e que beneficiam o sistema financeiro. Hoje, essa dívida é o maior problema brasileiro e se tornou impagável, mas não se costuma atribuir esse fracasso a FHC.

SOMBRA DO PASSADO – Hoje o Brasíl é apenas uma sombra do passado. Sua antiga importância na política internacional já foi substituída pela Índia.

O Supremo tornou o Brasil o paraíso da impunidade, como único país da ONU a determinar prisões após condenação em quarta instância, enquanto a maioria das nações só tem três instâncias judiciais.

E o Legislativo transformou o pacote anticrime do então ministro Sérgio Moro em pacote a favor do crime, que acaba de permitir a fuga de um dos mais perigosos criminosos do país. E na Câmara e no Senado os projetos não andam. Estão trancados nas gavetas do deputado Rodrigo Maia e do senador Davi Alcolumbre, ambos do mesmo partido do senador com dinheiro na cueca.

DINHEIRO VIVO – No Executivo, o poder está na mão de uma família que também gosta de operar em dinheiro vivo e de se curvar diante da matriz USA, a ponto de aparecer os cofrinhos nas cuecas.

Repita-se: o presidente do Banco Central adverte que a credibilidade da política econômica está arranhada, que a fragilidade fiscal contribui para a desvalorização da moeda e que o país perde investidores devido à política ambiental, mas não acontece nada, nenhum comentário do presidente nem do ministro-chefe da equipe econômica, é como se não tivessem nada a ver com isso.

Bolsonaro e Guedes mais parecem personagens de Voltaire no melhor dos mundos, nada pode atingi-los, e com isso os dois demonstram um elevadíssimo grau de irresponsabilidade pública, enquanto la nave va, cada vez mais fellinianamente.

P.S.- Esqueci de dizer que causa espanto o comportamento dos generais do Planalto. Comportam-se como se Bolsonaro fosse um presidente da maior eficiência e que estivesse fazendo um governo magnífico. Como diz o velho ditado, cada homem tem seu preço, e isso independe das estrelas sobre os ombros, que parecem não pesar sobre suas consciências.

E aí lembramos a expressão latina de Plauto, criada há mais de 2 mil anos e depois popularizada pelo pensador britânico Thomas Hobbes: “O homem é o lobo do homem”. De lá para cá, nada mudou.