Opinião

Protestos populares em vários países nada têm a ver com comunismo ou com subversão

Pedro do Coutto

Reportagem de Daniel Avelar, na Folha de São Paulo de domingo, destaca os movimentos de protesto populares em vários países do mundo analisando-os sob o ângulo econômico social. Perfeita, a meu ver, a colocação principal no texto de página inteira, focalizando a subida dos termômetros que calculam sua legitimidade.

Digo eu o seguinte. Defender reformas sociais, que somente podem ser alcançadas através do desenvolvimento econômico, mantém infinita distância com o comunismo, sobretudo porque o comunismo no sentido de negar a propriedade individual e a livre iniciativa, começou a desaparecer em 1953 com a morte de Joseph Stalin.

NOVO FIGURINO – Uma coisa é o regime ditatorial que vigora hoje na Rússia, China, Coreia do Norte e Cuba. Tais regimes sufocam as populações com a falta de liberdade de expressão. Mas no caso da Rússia, o país hoje tem a presença de bilionários em suas fronteiras. A China também se enquadra no mesmo figurino.

Em matéria de liberdade, a Venezuela pode ser incluída entre as ditaduras, não há dúvida, pois o governo Maduro perdeu seu rumo há poucos anos. O que havia anteriormente e que se manteve com o fenômeno da guerra fria não tem mais lugar no pensamento de hoje. V

Vejam só um exemplo: em outubro de 2017 transcorreram 100 anos da Revolução Comunista. O presidente Putin deixou passar em branco qualquer manifestação sobre o fato que pertence à história universal e o jornalista americano John Reed foi o autor do livro “Os Dez Dias que Abalaram o Mundo”.

INTERNACIONAL – Houve um tempo em que a velha guarda comunista da então União Soviética propunha a internacionalização do comunismo. Esse foi inclusive o ponto de ruptura entre Stalin e Leon Trotsky. Houve a partir de 56 duas invasões soviéticas para manter o comunismo na Hungria e na Checoslováquia. Em 68 a invasão foi para derrubar o governo e sufocar a primavera de Praga.

A partir daí a ideia comunista foi se tornando numa impossibilidade para si mesmo. O capitalismo sempre que associado a liberdade, como a História comprova, e seguiu vencendo todos os cotejos que colocaram em confronto a força criativa do capital.

OUTRA REALIDADE – Atualmente o comunismo não inspira e muito menos lidera manifestações populares. Tais manifestações não trazem dentro de si a ideia de dividir bens em partes iguais. A ideia predominante do reformismo consiste apenas em valorizar os interesses do capital e do trabalho de forma mais justa do que continua acontecendo. hoje mais de 2000 anos depois da crucificação de Cristo.

Portanto, ir ao encontro dos princípios da liberdade não significa dar as mãos a comunistas que sobreviveram do passado até hoje. São muito poucos aliás. 

REFORMISMO – A ideia reformista é absolutamente livre de vinculações políticas, partidárias ou ideológicas. Nasce de um esforço para valorização do ser humano e de seu trabalho. Se ser esquerdista é ser reformista, devo assinalar que na lente de aumento dos que assim pensam não cabe de forma alguma a encíclica Mater et Magistra do Papa Joâo XXIII. Impossível, portanto, a classificação da esquerda radical a um documento que acentuou um ponto firme e eterno: os seres humanos têm que se realizar tanto na terra como no céu. A encíclica é do final dos anos cinquenta. 

Será que os conservadores da atualidade classificariam o Papa João XXIII como esquerdista? E o Papa Francisco que brilhantemente defende o combate a miséria e a opressão do poder contra seres humanos? Não acredito.

O reformismo busca apenas a valorização do trabalho e o respeito à existência humana na face da terra. A realização tem de valer tanto na terra quanto no céu. Amém.
TI