A pressão contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, aumentou significativamente dentro e fora do país desde quarta-feira, 23, com milhares de pessoas tomando as ruas pedindo a sua renúncia e com a decisão de grande parte dos países do continente americano, entre eles o Brasil, de reconhecer o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino.
Há duas semanas, Juan Guaidó era uma figura quase desconhecida dentro e fora da Venezuela. Desde que assumiu o comando da Assembleia Nacional, em 6 de janeiro, ele se converteu na principal esperança da oposição para derrubar o chavismo e o regime de Nicolás Maduro.
Aos 35 anos, Guaidó integra as fileiras do Partido Vontade Popular, fundado pelo político opositor atualmente preso Leopoldo López, desde 2007, quando ainda era apenas um movimento – a fundação do partido ocorreu em 2009.
Sua estreia como líder da oposição e chefe da Assembleia Nacional neste mês chamou a atenção. O Parlamento da Venezuela é o último órgão estatal sob controle da oposição. As decisões do Parlamento, eleito em 2016, não são reconhecidas pelo governo chavista, que considera a Assembleia Constituinte, eleita em 2017 e chavista, o legislativo oficial.
A Rússia afirmou nesta quinta-feira, 24, que Nicolás Maduro é o presidente legítimo da Venezuela e que tentativas externas de usurpar o poder descumprem com a lei internacional. Outros países, como a China e a Turquia, também disseram ser contra uma eventual interferência dos Estados Unidos sobre as decisões internas em Caracas.
O porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, afirmou que uma intervenção é “inaceitável” e que as declarações dos EUA sugerindo a possibilidade de entrar com forças militares no país são muito perigosas, o que poderia abrir espaço para o caos e “um banho de sangue”. Perguntado se a Rússia, antiga aliada da Venezuela, estaria disposta a dar asilo a Maduro, o porta-voz afirmou que ele é o líder legítimo do país.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, acredita que os acontecimentos na Venezuela estão se mostrando positivos. Em seu último dia em Davos antes de embarcar de volta ao Brasil, o presidente apenas respondeu de forma breve sobre a situação em Caracas. “Venezuela está indo bem”, disse.
O Estado apurou que, na quarta-feira, o anúncio americano de rejeitar o reconhecimento ao governo de Nicolas Maduro foi coordenado de forma “constante” com o Palácio do Planalto. Uma fonte próxima ao presidente indicou que Bolsonaro, “de forma indireta”, esteve em contato com Donald Trump. O canal teria sido o Conselho Nacional de Segurança.
A Espanha informou há pouco que defende a realização de uma reunião de chancelereseuropeus para analisar a situação na Venezuela e definir a “melhor maneiras de apoiar eleições livres” no país.
O chanceler Josep Borrell afirmou que o governo de Nicolás Maduro é ilegítimo, mas se negou a seguir o exemplo de outros países e da oposição espanhola que reconheceu Juan Guaidó como presidente interino do país sul-americano.
“Defendemos (a realização de) eleições. Não sabemos como e isso causa um problema de efetividade”, disse Borrell nesta quinta-feira.
Estadão