Política

Revista Istoé destaca presidente da Câmara Rodrigo Maia na reforma da Previdência

É a partir da extensa mesa de jantar, defronte a telas a óleo do artista plástico lusitano Fernando Lemos, e de quatro poltronas nas cores bege, acomodadas entre duas cadeiras Barcelona pretas que, aos 48 anos, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, impõe um novo ritmo à pauta de prioridades brasileiras. Nesse ambiente bem peculiar da residência oficial, localizada na Península dos Ministros, o chileno de alma carioca já reuniu ao menos 400 parlamentares desde 2016, quando ascendeu ao comando do Parlamento pela primeira vez. Inicialmente, os grupos — então mais restritos — se distinguiam entre a “turma da pizza” e o “time do churrasco”. Hoje, os comensais são tantos e de matizes ideológicos tão diversos que seria impossível classificá-los por preferências gastronômicas. Assim se expressa o estilo Maia de negociar e buscar consensos em torno de uma agenda para o País. Não à toa, ele é considerado agora peça fundamental no xadrez da República, uma espécie de primeiro-ministro em pleno presidencialismo. “Nessa pegadinha de primeiro-ministro, não caio”, alertou ele rechaçando a deferência, enquanto posava para ISTOÉ em frente às duas torres do Congresso.

À frente da Câmara, o jovem Maia age como o spoudaios de Aristóteles: o homem maduro, aquele que, por conhecer a profundidade da alma de seus governados, os inspira e torna-se um líder autêntico. Na atual circunstância política, convém ao Executivo tê-lo como aliado. “Sem Rodrigo Maia, a reforma da Previdência não anda”, reconheceu à ISTOÉ o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Maia colocou o Executivo de joelhos. Sem ele não tem nova Previdência. Consegue ser o principal apoiador e o mais perigoso oposicionista do Planalto ao mesmo tempo”, alertou o líder do governo no Senado, Major Olímpio (PSL-SP).

Rodrigo Maia refuta qualquer hipótese de pastorear os parlamentares para a trincheira oposta à do governo neste momento. Apoiado no tripé “palavra, confiança e credibilidade”, ele parece ter entendido o zeitgeist – expressão alemã usada para designar o espírito do tempo. “Seria um suicídio político eu ir contra o que a sociedade hoje, mesmo dividida, quer”, afirmou em entrevista à ISTOÉ. Por isso, como regente de uma grande orquestra, ele quer todos afinadíssimos em favor das mudanças na Previdência e de pautas destinadas a promover o desenvolvimento do País. Ele crê, inclusive, na aprovação da reforma ainda no primeiro semestre. Sua importância foi tanta para o encaminhamento na CCJ que acabou reconhecida por Bolsonaro em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV na quarta-feira 24 e durante café com jornalistas no dia seguinte. “O presidente Rodrigo Maia deu um exemplo para todos de entrega e abnegação. Ele nos surpreendeu positivamente”. Maia não prescinde, no entanto, de cobrar novos gestos do presidente da República. Desta vez, dirigidos aos parlamentares. “Defendo com muita energia a necessidade das reformas, mas isso não suprime a responsabilidade do presidente da República”, disse.