Flávio Joé Bortolotto
No Chile, após os violentos distúrbios sociais nos quais na primeira semana morreram cerca de 20 pessoas e que continuam, promete o Governo Piñera (centro-direita) aumentar o teto mínimo das aposentadorias e pensões em 50%, cortar 50% dos salários dos políticos federais, aumentar imediatamente salário mínimo em 30% etc., e principalmente refazer a Constituição Federal do Chile.
O Chile, que é o país mais alfabetizado e organizado da América Latina, segue desde 1980 uma ortodoxa política econômica liberal laissez-faire, que gera uma boa renda per capita de US$ 18 mil (Argentina, US$ 14 mil; Brasil, US$ 12 mil)
BONS INDICADORES – A economia chilena tem excelentes números macroeconômicos, de fazer muita inveja a países como o Brasil, com inflação de 2% ao ano, taxa básica de juros de 2,5% ao ano, desemprego der 6,5%, crescimento econômico médio de 4% ao ano, déficit público federal praticamente zero e endividamento público de 25% do PIB, com reservas de US$ 50 bilhões.
Isso tudo para apenas 19 milhões de chilenos e um PIB de US$ 310 bilhões. Detalhe importante: o número de chilenos abaixo da linha de pobreza é de apenas 8%, sendo que em 1980 era de 20%.
Como pode um país assim, entrar em forte convulsão social?
BAIXOS SALÁRIOS – A única explicação racional é que o modelo liberal laissez-faire e não incentiva nem induz a industrialização do país, que propiciaria melhores salários. Na verdade, o modelo atual gera uma economia de relativos baixos salários médios e produz grande prosperidade somente para os 10% mais ricos, especialmente os famosos 1%, deixando quase 90% estagnados.
É justamente essa estagnação de padrão de vida das classes médias e pobres que gera um grande desânimo e mal-estar, combustível farto para convulsão social.
O caso do país amigo serve de lição para nós, que tendemos a seguir a política econômica chilena com o governo Bolsonaro/Guedes. Na realidade, se não reindustrializarmos o Brasil, tenderemos para o caminho de convulsão social tomado pelo Chile.
LEMBRANDO VARGAS – Quanto a nós, é preciso lembrar que o Brasil tinha renda per capita anual de US$ 1,5 mil em 1930, e o grande presidente Vargas, com o nacional-desenvolvimentismo que deveria ter sido preservado até hoje, elevou para US$ 11 mil (em valores atualizados).
Precisamos chegar aos US$ 50 mil, mas só conseguiremos essa proeza com “capitalismo liberal nacionalista” porque só as empresas nacionais com matriz no Brasil desenvolvem tecnologia própria e capitalizam 100% aqui dentro, numa democracia representativa eficiente, o que a nossa anda não é.
E a nosso ver aqui está o erro de quem defende o capitalismo liberal laissez-faire sem protecionismo e autonomia nacional. Seria recomendável passar a defender o capitalismo liberal nacional, que seria o caminho do meio.
TI