Figura influente do governo de Jair Bolsonaro, o escritor Olavo de Carvalho gravou um vídeo em que critica uma comitiva de parlamentares do partido do presidente, o PSL, que está na China para conhecer um sistema de reconhecimento facial já usado no país asiático. Os parlamentares novatos alegam que viajaram para estudar o sistema, que poderia ser instalado em estações de trem, metrô e aeroportos brasileiros.
A polêmica foi parar entre os assuntos mais comentados do Twitter na manhã desta quinta e expõe um racha entre os bolsonaristas. Influenciados pelo escritor, apoiadores do presidente foram às redes protestar contra o grupo de parlamentares. Por causa disso, o nome da deputada eleita Carla Zambelli (PSL-SP), uma das integrantes da comitiva, foi levado aos trending topics do Twitter.
Além de chamar o grupo de “semianalfabeto”, Olavo diz que a adoção da nova tecnologia equivale a “entregar ao governo chinês as informações sobre todo mundo que mora no Brasil”.
“Inclusive e especialmente alguns refugiados chineses que estejam aí”, diz o escritor sobre os supostos alvos da espionagem. “A partir do momento em que esse negócio estiver instalado, esses refugiados chineses podem se encontrar mortos”, acrescentou.
A empresa chinesa tem sido investigada por suspeita de atividades de espionagem. O departamento de segurança nacional da Polônia, país governado pela extrema direita, prendeu, no último dia 11, um diretor da Huawei por esse motivo. Cerca de um mês antes, no final do ano passado, outra dirigente da multinacional asiática foi detida no Canadá a pedido do governo dos Estados Unidos, episódio que estremeceu as relações diplomáticas entre os países.
A prisão da diretora em território canadense teve outro motivo, mas as agências de segurança e inteligência norte-americanas afirmaram ao Senado do país, há quase um ano, que existe risco de espionagem por meio dos celulares fabricados pela Huawei. “A Huawei cumpre todas as leis e regulamentos aplicáveis nos países em que opera”, alega a empresa.
O Congresso em Foco procurou o deputado Luciano Bivar (PSL-PE), presidente da legenda (e que não viajou à China), para comentar o assunto e aguarda resposta. Também não conseguiu contato telefônico com Carla Zambelli, fundadora do movimento pró-impeachment e de combate à corrupção Nas Ruas.
Entre os integrantes da comitiva estão a senadora eleita Soraya Thronicke (MS), e os deputados eleitos Daniel Silveira (RJ), que ficou conhecido por destruir uma placa em homenagem à ex-vereadora carioca Marielle Franco (Psol), assassinada em março de 2018, Tio Trutis (MS), Junior Bozzella (SP), Felício Laterça (RJ), Bibo Nunes (RS), Charlles Evangelista (MG), Marcelo Freitas (MG) e Sargento Gurgel (RJ) – todos do PSL. Também participam do grupo o deputado Alexandre Serfiotis (PSD-RJ) e o eleito Luis Miranda (DEM-DF).
Olavo de Carvalho é apontado como responsável pela indicação de dois ministros de Bolsonaro: o da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, e o das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Astrólogo de formação e filósofo prático, o escritor virou uma das vozes mais estridentes da direita nas últimas décadas e já se envolveu em inúmeras polêmicas.