Os momentos de maior tensão são aguardados na Câmara. Desde a semana passada deputados do chamado Centrão (grupo encabeçado pelo DEM, o PRB, o PR, o PP e o Solidariedade) ameaçam esvaziar a audiência em protesto, segundo eles, ao tratamento dispensado pelo governo aos parlamentares, seja na demora na distribuição dos cargos, seja no tratamento dispensado pelos ministros. A Casa Civil promete destravar a liberação dos cargos ainda nesta semana.
Eles também se irritaram com o projeto de reforma da Previdência e reestruturação da carreira dos militares, enviado na última quarta (20), com regras mais generosas do que as previstas para o restante da população. A economia, que deveria girar na casa dos R$ 90 bilhões pelos próximos dez anos, caiu para R$ 10 bilhões, com ma reestruturação da carreira militar. Pela primeira vez na presença do ministro, a oposição formada por partidos de esquerda promete endurecer as críticas à reforma.
Discussão pública
A crise se agravou neste fim de semana, com a troca de críticas entre os dois presidentes. Maia demonstrou grande irritação com o governo nos últimos dias. Considera que tem se sacrificado como articulador político para aprovação da reforma da Previdência, responsabilidade que, no entendimento dele, não tem sido assumida por Bolsonaro. E, mesmo assim, entende que tem sido atacado por aliados do Planalto nas redes sociais. O principal destinatário da reclamação do deputado é o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente. Carlos cuida das redes do pai, exerce forte influência sobre os seguidores de Bolsonaro e fez provocações ao deputado.
Maia elevou o tom de voz pela imprensa. Chegou a dizer que o “governo não existe”, não tem projeto para o país, é um “deserto de ideias”, trabalhou contra sua reeleição na Câmara e é incompetente até para formar uma base parlamentar. Além disso, cobrou liderança e protagonismo de Bolsonaro e recomendou que o presidente saia do Twitter e governe de verdade.
Bolsonaro respondeu que a reforma da Previdência, agora, é de responsabilidade do Congresso e insinuou que Maia faz parte da “velha política”, ao apontar a velha prática do “toma lá, dá cá” como principal motivo da insatisfação dos parlamentares. Não parou por aí. “Até perdoo o Rodrigo Maia pela situação pessoal que ele está vivendo”, disse ele, em referência à prisão do ex-ministro Moreira Franco, na Operação Lava Jato na última quinta-feira, junto com o ex-presidente Michel Temer. Moreira é padrasto da esposa de Maia.